Crônica de Jorge Herberth
Na secular Província dos Macapaabas, depois da febre gatunocense do manganês, com todos os minerais associados às ricas reservas Aruaques, dos embusteiros espanhóis, holandeses, franceses e dos queridinhos portugueses, os moradores ainda assistiam passivos à entrada e saída de grandes navios. Eles continuavam levando, além das cargas de madeira, biogenética e contrabando de segredos da floresta, muita água do Amazonas River, o maior rio do mundo em volume d’água e Caruanas barrentos. Junto à exploração do ouro que contamina com mercúrio, há mais de século, todos os dias, o solo e os cursos d’água em todo o território Jucurutututu, passando pelos que saqueiam o rico dinheirinho dos moradores da vila Xinguyling. Mas por essas bandas, um dia tudo têm limites. E que limites!
Ensandecido com tanta roubalheira, um Caruana ameríndio surgiu no meio das pedras de um braço do Amazonas River, o Pedreira River, por e de onde parte da riqueza da vila foi surripiada por esses estranjas exploradores de eco vidas. Declarou-se descendente das primeiras civilizações, com sangue de onças pintadas e jacarés açus, do qual alimentou-se durante esses séculos de existência. Quem duvida, perde a vida!
Sozinho, o Caruana ameríndio aportou lá pelo Igarapé da Fortaleza da Província e seguiu para pedir ajuda a um parente, Caruana morador do Laguinhesse, que segundo ele, herdou a força sensitiva das tribos das Pedreiras e das Pedrinhas, onde existiam fontes miraculosas do azeite pracaxi, inverso da peroba. No encontro, muita gengibirra e fogueira para moquear saborosos tucunarés que sobraram dos gananciosos do Aporemanauaçú, outra vila invadida por vermes embusteiros falastrões enganadores de ribeirinhos. Foram dias e noites de lembranças familiares, tradições e um pacto para acabar de vez com o surrupio das águas férteis do Amazonas River. Claro, pacto precisa ser secreto.
Com a fumaça do moqueio, todos os vizinhos fofoqueiros da Província viraram bobos mundiados, mesmo depois de tudo que viram e ouviram sobre as estratégias. Inclusive os que assistiram a entrada do Caruana ameríndio na vila ficariam esquecidos por séculos até o pó de suas vidas. Nesse período, os gatunesses políticos também esqueceram-se por uns tempos de roubar, enquanto a fumaça do moqueio sobrevoou vossas cabeças sujas e tortas.
A base das estratégias Caruanas consistia em ações coletivas, pois sozinhos, como é hoje cada um por si, murici. Seriam mortos e condenados sem nenhum heroísmo, devido à cegueira das escolhas de sempre. O ambiente, água barrenta, fortes e grandes ondas, céu azul, sol brilhante em frente à Província mais rica dessas bandas, muito propício aos patos e seus fôlegos mergulhões. Junto com eles, papagaios bicudos e japiins que conhecem o rio e a orla do Amazonas River, assim como todas as traições por ali, como ninguém.
De humanus asteroides, cinco amigos fieis e sniper´s na arte de acertar covardemente miúdos e indefesos passarinhos desde a infância: com baladeiras e formação da Tropa dos Caruanas, Pedro cai N’água Jr., Hoxôa Perna de Anão, Paolo Feroz Pachoval, Tralhoto Buzzella Snniper e Barba Farrozito, o mais sniper de todos, que nunca errou uma tirada. Reunidos, decidiram pelas baladeiras Astúrias, arma poderosa, com pelotas deixadas pelos que tomaram de assalto a mina da Província. Todas as balas seriam revestidas de balata envenenada com timbó. O ataque foi preparado com muito rigor. Afinal, a luta seria contra milicianos e mercenários, legendários de uma potência mundial que invade províncias para roubar água, petróleo do grosso, eco genética, matando crianças e mulheres indefesas inocentes.
Todos os patos mergulhões do Araxanauá foram orientados a sobrevoar os 64 navios, durante a madrugada de luar na noite de equinócio. Depois, fingir que sumiriam num mergulho de guerra. Os papagaios fizeram o sobrevoo seguinte, com muito barulho pra chamar a atenção de todos os milicianos e mercenários. Assustados, eles foram para os conveses, momento mais propício para o ataque mortal. E assim foi executado o plano mais perfeito de uma invasão contra 64 embarcações lotadas de patentes fúteis.
No segundo ataque, os mergulhões cagaram diretamente nos olhos de todos os milicianos e mercenários. Um resto de fumaça do moqueio foi soprado pelos japiins, um veneno coronarianus. Momento em que os papagaios bicaram culhões e jugulares dos assassinos ladrões de água. E os sniper´s não erraram uma pelota nas testas dos inimigos da Província Macapaaba e de suas tribos, herdeiras de sustentabilidade da honra.
Para afundar os 64 navios piratas embusteiros, Francolino Xapéu, o vaqueiro vingador de Aporemanauaçú, que planejou tudo com os Caruanas, montado em Sheik, cavalo alado da raça puro sangue pangaré, misto de manga larga doce e Araguari Pororoca, surge das águas do Amazonas River, escondido entre mururés e vitórias régias, como Jaci no luar do Equinócio. Com sua espada sangrando timbó, Francolino Xapéu e Sheik furam, um a um, os cascos dos 64 pirateiros.
Alinhados sobre o rio, aves, pássaros e humanus asteroides viram sorrindo o resultado da resistência, da luta e o afundamento da frota 64, que saqueou vidas durante séculos. Nas margens do Amazonas River, Caruanas e suas famílias assistiram a tudo aplaudindo Francolino Xapéu, o vaqueiro Dom Quixote desconhecido, e os heróis da Província dos Macapaabas.
(Macapaaba, 04 e 05 de março de 2020 – Jorge Herberth)
*Jorge Herberth é jornalista, cronista, músico, produtor/militante cultural e poeta.
5 Comentários para "Francolino, O Vaqueiro Dom Quixote – Crônica de Jorge Herberth"
Grande revelação na literatura local. Jorge Herberth aceita todo arcabouço amazônico que sopra em sua imaginação e a trabalha com maestria.
Um mergulho no Universo Fantástico do Fantástico Amazônico .
Qualidade de Qualidade!
Fernando Canto e Luiz Jorge, muito obrigado pelas gentilezas.
Jorge Herbert, coloca neste conto toda a essência, a criatividade e os mistérios da gente de sua terra natal. É Macapá, que se encontra aí.
Luciana Nóbrega, muita gratidão. Bjs