Futebol e “arte”: a estátua feiona do Bira na esquina do estádio Glicério Marques

Estátua em nada lembra o saudoso Bira

Que estátuas visam prestar homenagem a pessoas ilustres, todos sabemos. Afinal, preservar memória e reconhecer talentos é essencial para a história de qualquer comunidade, cidade ou país. Também temos a ideia que arte é sinônimo de beleza, certo? Infelizmente, nem sempre. Como hoje, 15 de janeiro, o Estádio Glicério Marques completa 74 anos (com crônica sobre aqui), lembrei que um dos maiores do futebol amapaense, Ubiratan do Espírito Santo, o popular Bira, que faleceu aos 65 anos, em setembro de 2020, foi “homenageado” com uma estátua na esquina do Estádio Glicerão, em 2023.

O problema é que o monumento divide opiniões, pois, para mim e para a maioria das pessoas que conheço, o monumento não tem nada a ver com o Bira. Sério. A estátua, com dois metros de altura, nem de longe se assemelha ao artilheiro falecido.

O Bira jovem, quando jogador (que “ins- Pirou” a escultura)

A escultura, que remete a um homem negro, forte e com cabelo Black Power (características que o Bira tinha quando ainda brilhava nos campos de futebol do Brasil) é estranhíssima. E esse é comentário de todos que conheceram o nosso artilheiro.

E não é nada contra o artista, que tem talento reconhecido no Amapá. Inclusive, com seus trabalhos diversas vezes divulgados aqui (é só ler). Pois ele já fez coisas fantásticas, como as estátuas do professor Munhoz e professora Zaide ficam no Largo dos Inocentes, atrás da Igreja São José. Ou quando ajudou a eternizar figuras históricas do marabaixo. Isso pra citar apenas esses trampos, entre outros brilhantes. Entretanto, este não retrata sua genialidade.

Porém, nem sempre acertamos. Não é toda vez que EU escrevo algo que preste (aliás, muitos podem discordar deste texto). Mas como estamos aqui para aplaudir, incentivar, entre outras paideguices em relação a arte, esporte, história e memória amapaense, também temos direto de tecer críticas quando a coisa não fica bacana.

Mais sobre o Bira

Bira começou no Esporte Clube Macapá, mas o Fernando Canto disse que eles jogaram juntos no Flamenguinho do Laguinho. Foi campeão de quase tudo que disputou como amador e profissional.

Bira passou pelo Paysandu, de Belém-PA, mas foi um dos maiores (se não o maior) artilheiro da história do Clube do Remo, também de Belém, e campeão brasileiro invicto com o Internacional de Porto Alegre-RS, em 1979. Ele passou por vários times: Atlético-MG, Juventus-SP, Náutico-PE, Novo Hamburgo-RS, Brasil de Pelotas-RS, Aimoré de São Leopoldo-RS, Tiradentes-PA e encerrou a carreira no Vila Nova, de Castanhal-Pa.

Bira era amigo do meu saudoso pai, Zé Penha. Tive o prazer de conviver com ele em um período da minha vida, entre 2004 e 2009, e rir bastante dele e com ele, pois o cara era engraçadão, bem-humorado, boa praça e muito gente fina.

Ou seja, uma estátua para eternizar a memória do saudoso craque amapaense está longe de capturar a essência do artilheiro. No entanto, o que se vê naquela esquina é uma caricatura malfeita, que contrasta drasticamente com o que deveria ser: um testemunho tangível da admiração e gratidão por um atleta que elevou o futebol amapaense.

Em resumo, o monumento é bizarro. O centroavante raçudo de muita força física, que trombava com zagueiros e fazia muitos gols, não deve ter curtido, lá nas estrelas. Só que isso nada apaga o legado de Bira, que sempre continuará com a sua chama acesa nos corações daqueles que celebram o esporte e a história do Amapá.

Elton Tavares, jornalista, escritor, fã de futebol e amigo do saudoso Bira

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    Muito bem evidenciado meu amigo. Pensei que somente alguns poucos haviam observado a incompatibilidade entre a Arte e Realidade.
    Realmente, a intenção e a homenagem continua valendo. Porém se faz necessário um aprimoramento nas características físicas do nosso ilustre e saudoso atleta.

  • Tive a honra de conhecer o saudoso Bira pessoalmente qdo cheguei a Macapá em março de 2007, uma Estrela q tinha grande admiração por seu imenso talento e raça no futebol.
    A bonita e justíssima homenagem se validará sendo colocada outra estátua q traga de fato a lembrança física do nosso amadissimo Bira. Afinal, estátua representa realidade na memória de gerações por séculos. Vamos devolver, enquanto é cedo, os reias traços físicos da nossa grande estrela Bira.

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