Pelo direito de ter cabelo curto


Quando entrei no ensino médio, resolvi abandonar meus longos fios e usar cabelo curto, não foi algo fácil de acostumar, passei então o resto dos anos deixando o cabelo crescer, tudo isso para descobrir que me sinto mais bonita de cabelo curto. Tesoura de novo então! Desde então, a cada fase nova da minha vida os fios iam perdendo comprimento, até o dia que realizei um sono de infância: passar a máquina no cabelo. Sonho realizado, eu me sentindo melhor, fim de história… ou não. Toda mulher de cabelo curto coleciona uma série de frases “nada-a-ver” sobre seu corte.

Hoje pela manhã, após ver minha nova “proeza capilar”, um amigo que há muito não via, perguntou se eu tinha virada lésbica, não preciso explicar o quanto foi uma colocação absurda, pelo esteriótipo de toda mulher que tem cabelo curto é lésbica. Sempre rola um questionário quanto à feminilidade também, mal sabem que ter cabelo curto foi uma das maiores afirmações da minha feminilidade que encontrei. Decidir o que e como usar, sem importar os padrões de beleza das revistas e novelas, foi uma forma de afirmar minha independência e luta pelo meu corpo.

A coleção vai longe, “mas seu namorado deixou?”, “quando ficar velha, vai se arrepender”, “assim fica difícil de puxar na hora do sexo” e outras asneiras que a gente ignora jogando os poucos fios que restam ao vento. Que aliás, é uma das melhores coisas de se ter um cabelo curto: poder sentir vento na nuca e sofrer menos com o calor.

Jhenni Quaresma

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