SÍMBOLOS E MARCAS DAS ESCOLAS DE SAMBA – Por Fernando Canto

 

Por Fernando Canto1765_boemios10fotomarciadocarmo

Enquanto as campanhas políticas estão nas ruas as escolas de samba amapaenses iniciam nos bastidores sua competição anual em busca da vitória no carnaval. A guerra se ensaia pelos preparativos necessários à materialização dos enredos que sempre são vastos e interessantes.

Mas hoje me detenho na interpretação de seus símbolos, escolhidos para apresentar no carro abre-alas e dar de imediato ao público a expectativa das outras alegorias que acompanharão o cortejo pelo sambódromo.

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Duas dessas escolas escolheram como símbolos a águia. A Jardim Felicidade e a Império Santanense podem se dar ao luxo de terem a chamada “rainha das aves” e um dos mais importantes símbolos das mitologias de todas as civilizações como marca, a exemplo da Portela, do Rio de janeiro. Para os índios norte-americanos a águia é o poder do Grande Espírito. Representa a habilidade de se viver no reino espiritual e ao mesmo tempo permanecer em conexão e equilíbrio com o reino terrestre. Carminha Levy e Álvaro Machado informam em seu livro “A Sabedoria dos Animais”, que na América do Norte “a admiração pelo pássaro parece ter passado de nativos a colonizadores sem prejuízo, já que um grupo de maçons que idealizou as leis e símbolos dos Estados Unidos elegeu a orgulhosa águia-de-cabeça-branca (ou águia americana) como representante de seu país”. Mircea Eliade relata que a águia era a ave solar entre os antigos povos siberianos e que os gregos tomaram emprestado o simbolismo dos sírios, e ela tornou-se o animal sagrado de Zeus. Sua qualidade de animal psicopompo também era bastante ressaltada entre eles, e a imagem da águia foi gravada na tumba de Platão, para bem conduzi-lo às regiões celestiais.soli

Mas apesar de todo o imaginário dos antigos astecas e de outros índios sul-americanos (com o condor e o gavião real) é zoologicamente incorreto chamar de águia, do gênero Aquila L., os nossos falconiformes. A verdadeira águia não existe no Brasil.

A escola Solidariedade é representada por um Jacareacanga (cabeça de jacaré). Em que pese a interpretação popular que é um animal “que vai na beira e volta” (uma alusão aos constantes descimentos e subimentos da escola), o jacaré é uma divindade noturna e lunar, senhor das águas primevas. Segundo Chevalier e Gheerbrant, o Ocidente retém do jacaré (crocodilo) a sua voracidade, mas faz dele um “símbolo de duplicidade e hipocrisia”. Na mitologia chinesa ele é o inventor do tambor e do canto. Tem, então, certo papel no ritmo e na harmonia do mundo. Como intermediário entre a terra e a água é o símbolo das contradições fundamentais e de uma natureza viciosa.

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A Maracatu da Favela traz em suas insígnias a coroa do Divino Espírito Santo,a terceira pessoa da Santíssima Trindade no panteão católico. Representa luz divina espalhada sobre a humanidade. A pomba do Divino é o símbolo da paz, esperança, fidelidade conjugal e simplicidade, bem como dor resignada, de acordo com Levy e Machado. Op. Cit.).

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Os Emissários têm a cegonha em seu estandarte: uma ave migradora, portadora da lenda de que traz os bebês recém-nascidos. Os boêmios mudaram seu símbolo para ao guará, ave que se assemelha à íbis egípcia. Ela é a encarnação do deus Tot, deus da palavra criadora, patrono dos astrônomos, dos contabilistas, dos mágicos, dos curandeiros e dos feiticeiros. O guará da mitologia indígena, assim como a íbis, tem o dom da previsão e da sabedoria.

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Já os Piratas da Batucada e os Piratas Estilizados trazem um pirata, que segundo o Aurélio, é bandido que cruza os mares só com o fito de roubar; ladrão, gatuno, tratante, espertalhão, malandro, e outros epítetos inerentes a esse símbolo.

O tema é amplo e certamente voltará a ser tratado neste espaço.

* Fotos encontradas no site G1 Amapá e nos blogs da Alcinéa Cavalcante e Notícias Daqui.

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