OPPIDUM TEMPO
Mas eu que joguei cacos de telhas nos telhados/ que cheirei flores amarelas das ruas pobres/ que enfiei fiapos de juta na medula/ e vi crescer calos de sangue nas cercas que separam o tempo,/ vi também que quem inova é apenas ele,/ esse ser de nada que me oprime/ sombra que me experimenta/ irredutível/ em dimensões ausentes de fronteiras./ Tempo/tempo/temporal.
OPPIDUM LATINO
Ah, mas eu sou também um filho desse estranho nome/ o oppidum latino/ inexpugnável cidade fortificada/ onde cada óbito revive/ em rituais das águas dos solstícios/ em liturgias do sol dos equinócios/ da tradição dos celtas ancestrais que te fundaram em tempos imemoriais./ Tempo/tempo.
OPPIDUM MURALHAS
Quem sabe à emoção de um terremoto trágico/ ao medo do mouro sanguinário/ da truculenta força visigoda/ do implacável gládio dos romanos/ Não me fortaleci em muralhas para te amar tardio,/ mas prenhe de sussurros/ canonizando o amor que trago em mim?/ Ó tempo! Ó tempo!
OPPIDUM AGUARDENTE
Quem sabe ainda/ a poesia absorvida em teus encantos/ não me fizeram ater-me em aguardentes de tuas ginjas/ e a jogar-me inebriado do teu vinho em barcos viajantes como eu/ que sonho a eficaz cimentação de tua resposta/ ao meu amor vivificado por teu nome? Tempotempotempotem.
OPPIDUM FUTURA
A quem será que cabe/ a tua arquitetura eclética/ os teus portais, torres e varandas/ os aparatos militares e as questões políticas que te tornaram História? Caberá para teus filhos alimentados de farinha de banana/doce de tamarindo/licor de taperebá./ De paxicás e mixiras? Ó tempora, ó mores!
Fernando Canto
*Do livro Canção do Amor Enchente.
3 Comentários para "Poema de agora: OPPIDUM – Fernando Canto"
Maravilhoso. A imagem e a poesia em absoluta harmonia.
Belíssimo poema…ritmo e cadência…alinhados com a descrição que explode uníssona para iniciar e findar o texto.
Porventura testamento…?
POEMA ENCANTADOR E HARMÔNICO NA LETRA COM IMAGEM. TAMBÉM UM QUADRO DE GRANDE BELEZA PLÁSTICA.
CARLOS NILSON COSTA EM 28 DE AGOSTO DE 2018