Crônica de Pat Andrade
Eu me pergunto se todo o mundo que tem gato já viveu coisas assim…
Posso estar redondamente enganada, mas às vezes tenho a impressão de que meu gato me despreza descaradamente. Quando eu o chamo pelo seu nome, Juvenal – sempre de maneira muito carinhosa – ele me retribui com um olhar mal dado sobre o ombro e segue impávido o seu caminho, com a cauda devidamente erguida, indo se aninhar em alguma caixa velha ou entre as roupas de cama recém-lavadas, embora ele tenha uma caminha linda, fofa e confortável que encomendei de uma artesã caríssima. Só atende ao meu chamado se e quando quer.
Não raro, o surpreendo me olhando satisfeito durante o seu banho diário lambendo minuciosamente cada pedacinho das patas e das pernas, alongando-as e esticando-as até um limite inimaginável sem nenhuma dificuldade – claramente exibindo sua elasticidade felina. É como se me perguntasse: “tu consegues fazer isso?”
Quando sobe nos móveis, indiferente aos meus protestos e pedidos para que desça, me pisca os olhinhos, ignorando completamente minha irritação e derrubando a primeira coisa ao alcance de sua pata, sem nenhum indício de preocupação. Não satisfeito, me lança aquele olhar imponente e altivo, como se me desafiasse a tirá-lo de lá. Se por acaso me aproximo para fazê-lo descer, ele desce antes que eu chegue perto o suficiente, me deixando com cara de boba e ainda mais irritada. Se esfrega em mim e se afasta tranquilamente, com a cabeça e a cauda erguidas, ostentando uma dignidade de dar inveja a qualquer reles mortal.
Mas Juvenal também adoça meus dias quando me dirige suas piscadinhas ternas e quando aperta suas patinhas em volta das minhas mãos, num inexplicável e delicioso abraço de gato; ele me aquece o coração quando invade a cama e deita no meu peito reivindicando toda a atenção possível até enfadar-se totalmente de mim e de meus carinhos; ele alegra a minha vida quando abro a porta da casa e o vejo à minha espera deitado no tapete da sala – ainda que não pareça exatamente contente. Devagarinho, levanta e caminha em minha direção; se enrosca nas minhas pernas dando cabeçadas suaves, pedindo colo e comida.
É esse serzinho adorável e irritante que é o dono dos meus olhos, dos meus cuidados e dos meus amores. Sei que não posso vacilar com ele, porque do amor ao desprezo pétreo e dos carinhos às mordidas implacáveis é só um salto – de gato, claro.
*Hoje é o Dia Mundial do Gato.
2 Comentários para "Declaração de amor ao Juvenal, meu gato – Crônica de Pat Andrade"
Lindo, Pat!
As piscadas são o suficiente para saber que Juvenal ama sua dona. Linda crônica!