E se o tal “golpe” der certo e a nossa democracia for por água abaixo? E se o tempo, depois de tanto tempo andando pra frente, de repente resolveu retroceder e o pesadelo dos anos de chumbo bater com seu pé pesado, revestido num coturno, em nossa porta e invadir novamente as nossa vidas? O que pode mudar em nosso cotidiano?
E por falar em “Cotidiano”, será que o Chico Buarque e todos os seus “comparsas” da mesma geração voltarão a cantar os mesmos versos “subversivos” de outrora? Ou será que eles permanecerão num eterno estado de “Cálice”?
Eu, particularmente, não acredito (ou prefiro não acreditar) que o Brasil será novamente governado por uma intervenção das nossas Forças Armadas. Até porque nossas forças não estão tão bem armadas assim – basta comparar as sucatas do Exército Brasileiro com o arsenal poderoso dos traficantes do Rio de Janeiro. Se fosse só pelas armas, estes sim até poderiam governar logo de uma vez…
Mas caso essa intervenção militar ocorra, o que realmente pode mudar em nossas vidas? O que, de fato, nós, o povo brasileiro, iremos ganhar? Eu não consigo pensar em outra resposta senão “NADA”!
Depois das últimas eleições presidenciais de 2014, o Brasil se dividiu em duas classes que dão nojo: os “coxinhas” e os “petralhas”. Estes, defendem com unhas e dentes todo um idealismo de esquerda que funcionava muito bem nos discursos do Lula, nos tempos de suas barbas negras, mas que hoje perdeu completamente o sentido diante dessa política petista que ninguém sabe se é socialismo, neoliberalismo ou puro “corruptismo”. Já aqueles, são o mais fiel retrato do conservadorismo brasileiro disfarçado de patriotas.
A verdade é que ambos estão mais perdidos que filho de puta em Dia dos Pais, pois não enxergam a manipulação a qual são submetidos e se julgam experts em política nacional, reproduzindo sempre os mesmos discursos prontos da mídia. E aí vale tudo, de Raquel “Cheirazeda” a Jean do BBB, passando por “Bolsotário” (que agora virou “mito”). E agora basta abrir as redes sociais pra assistir ao circo de horrores (ou de idiotices).
O ano de 2016 já está chegando e eu fico apreensivo quanto ao nosso futuro. Pois se os “petralhas” ganharem a luta (“pero sin perder la ternura jamás”), continuaremos nadando numa lama pior que a da Samarco. Se os “coxinhas” saírem vitoriosos, aí é que estamos perdidos mesmo, pois nem artistas cantando músicas de protesto nós teremos, para animar nossas passeatas por mais uma “Diretas Já” daqui uns vinte anos.
Por isso, assim como Buda, eu prefiro seguir o “caminho do meio”, por já ser meio caminho andado. Vou exercer meu direito de me abster e de me abstrair desta triste e cruel realidade ilusória pela qual passa o nosso país. E se a coisa ficar mesmo feia, posso fazer que nem o Lobão, só que ao invés de ir embora pros EUA, prefiro ficar numa boa, molhando os pés no Amazonas ou voltar pro marzão azul da minha Paraíba, e ficar só comendo um peixinho frito, assistindo a banda passar, tocando coisas de amor…
*Silvio Neto é jornalista, bancário, músico e maçom.
Meu comentário: o texto, muito bem escrito, é a opinião do amigo Silvio. Já a minha é pela moralização. Sou contra o golpe militar, mas a favor do impeachment. Assim como sou a favor da cassação de Cunha e de todos os canalhas que tiram nossas esperanças de um Brasil melhor.