Por José Ricardo Smith
Recentemente tive contato com umas interessantes moedas (fichas) de latão, fiquei emocionado pela história de um povo sofrido e segregado que as usava. Elas foram feitas para circular em um local apenas, o Leprosário de Santo Antônio do Prata em Igarapé-Açu (Pará).
Conhecida há mais de três ou quatro mil anos na Índia, China e Japão, já existia no Egito quatro mil e trezentos anos a.C., segundo um papiro da época de Ramsés II.
A lepra foi levada à Europa Oriental pelos exércitos persas e mais tarde pelos romanos. Foi também espalhada na Europa Ocidental pelos sarracenos e cruzados.
A hanseníase, conhecida antigamente como lepra, é uma doença crônica transmissível. Possui como agente etiológico o Micobacterium leprae, bacilo que tem a capacidade de infectar grande número de indivíduos, e atinge principalmente a pele e os nervos periféricos. A infecção por hanseníase pode acometer pessoas de ambos os sexos e de qualquer idade. Entretanto, é necessário um longo período de exposição à bactéria, sendo que apenas uma pequena parcela da população infectada realmente adoece.
A Colônia do Prata foi fundada em 1898 pelo capuchinho lombardo Frei Carlos de São Martinho, no governo de Paes de Carvalho, destinado à catequese dos silvícolas da região dos rios Capim e Guamá. Em 1921, funcionou uma colônia correcional da chefatura de polícia. A vila de Santo Antônio do Prata, situada no município de Igarapé-Açu, criada por volta de 1908, como Colônia do Prata, considerada a mais antiga colônia de hansenianos do Pará, a cerca de 110 quilômetros de Belém, chegou a atender mais de 13 mil portadores da doença.
Devido às limitações, tanto na medicina quanto nas informações, o governo brasileiro, autorizado pelo presidente em exercício Getúlio Vargas, instituiu a lei que obrigava as pessoas acometidas pela doença a ficarem isoladas em colônias, longe de qualquer vínculo com a sociedade e/ou de áreas de cultivo.
A série, composta por moedas (fichas) que tinham valor facial igual ao padrão monetário da época, foi uma medida criada pensando em supostamente evitar o contágio de outras pessoas pela doença, imaginava-se que caso os enfermos tivessem contato direto com o dinheiro na época, as moedas usadas sairiam da colônia e contaminariam outras pessoas pelo país.
Nas colônias os abusos eram freqüentes e havia pouca ajuda externa, poucos enfermeiros(as) aceitavam trabalhar nestes locais, e a igreja passou a administrar várias colônias. As condições de vida eram muito ruins.
* José Ricardo Smith é professor e numismático.