BORRÃO
Não vejo mais teus olhos, minha amada,
Não lembro a página em que te deixei,
Quão doce era teu seio que beijei,
Minha memória é turva e desfocada.
Sonho contigo, mas, evaporada,
Mudas de face, e teu nome eu não sei.
Perdi o calor do corpo que abracei,
Nada restou de ti, querida, nada!
Saíste ao ver o sol pela janela,
E eu, que dormia, nunca mais te vi.
Seria tudo sonho o que senti?
Tua boca ardente é só um borrão na tela:
A confusão do tempo não revela
Qual o sabor da língua que mordi.
Ori Fonseca