Poema de agora: BÔTA – Luiz Jorge Ferreira

BÔTA

Apa…tua…nua…lua…voa..zonza… de lume…e Zinabre…cava a cova…grávida de ovas…
Dança tua dança Mar a baixo d’água D’eu.
Tupã Açu um Sul açoita como Bôta em Cio.
…e tu arriscas ficar velha sem largar de ser bela.
E doida por ti a Fortaleza…
Finge desprezo…


Abraça o velho Rio…rabugento e estridente.
Braçadas de barcaças, e um tronco mufino range demais.
Os eles, os mais de duzentos anos te dizem…te amo…!
Na língua do P.
E eu daqui o imito.
Gritando em Samaraca da janela entreaberta desse Edifício.
Olhando de esguelha o Tietê, e ao longe o Rio Pinheiro.


Assusto a Kalopsita que nunca viu uma Arara de perto, mas ama os tons de cores.
Amo Macapá…como quem ama um turbilhão de lembranças dependuradas em uma fotografia emoldurada com crayon.
A fotografia ainda imune ao ferrugem do tempo.
Resiste.


Ela que tanto brincou comigo e agora se afasta…
Caminha silenciosamente em direção ao Nunca.
Eu fecho a janela e guardo em mim o grito, que agora é saliva, e mergulho no Rio da foto, e nem me molho, nem sobrevivo.
Apenas discuto se foi azul.

Luiz Jorge Ferreira

*Poema do Livro Nunca mais vou sair de mim sem levar as Asas – Rumo Editorial. 2020. São Paulo. Brazil.

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