Poema de agora: CANTIGA (NÚMERO DEZ) – Luiz Jorge Ferreira

CANTIGA (NÚMERO DEZ)

Porque fostes assim, ouvidos e ruídos.
Porque fostes assim, início, fim e meio.
Porque fostes assim,a mão que fere, e afaga.
Porque insistes em mim, um amor de não, e sim.

Porque vives assim chegando e partindo.
Porque amo em ti, o que nunca eu encontro.
Porque ouso ferir o amor cicatrizado.
Porque ando ao derredor e volto aos pedaços.

Porque amo a noite, inteira ou destroçada.
Porque sempre receio a dor de uma saudade.
Porque estas onde estás eu mesmo não estando.
Porque creio demais com a fé que não possuo.

Podes agora exilar-me entre gritos e horas.
Podes agora cobrir-me com teu desdém.
Podes agora deixar-me aqui exposto ao frio.
Podes agora falar-me do jeito mais vadio.
Podes agora derramar no chão todo o teu cio.
Podes agora esconder-te profundamente em mim.
Podes agora, te aprontar , e ir.

Eu arrumo as sombras, e os passos.
Eu arrumo, o adeus, e os retratos.
Eu arrumo os versos, e os pratos.
Eu me arrumo inteiro, por pedaços.

Luiz Jorge Ferreira

*Do livro “Na frente da boca da Noite ficam os dias de Ontem” – Rumo Editorial…2020 (São Paulo – Brasil).

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