O OLHAR DO JOÃO
(Para João Cabral de Melo Neto)
O Olhar do João
Passeia agora pelo sertão
Pelo Nordeste quente
Pelas pedras do agreste
O olhar do João
Vê aquele indigente
E não fica indiferente
À miséria de sua gente
O olhar do João
Pousa no cidadão (cidadão?)
Pousa no homem ossudo
Cliente da fome
Eterno viver à procura da sorte
O olhar do João
Não embaça com a lama negra
Com o pó da aridez
Com os detritos do rio
Esse olhar
Ele transforma em pedras
Atirando-nos sutilmente
Mandando a gente pensar.
Bete Ramos
* Poesia em homenagem ao poeta João Cabral de Melo Neto, que faria cem anos hoje (poema vencedor do I Festival Amapaense de Poesia, em 1998).