Poema de agora: Para dependurar contra o vento – Luiz Jorge Ferreira

Para dependurar contra o vento

O reflexo da minha mão direita dentro do espelho
conta as pingos da chuva
pares.
Os ímpares eu os sopro para detrás da sombra do cão que a tudo olha.


O ruido do arco íris sacudindo o dorso para se livrar dos limbos agarrados ao cume das mangueiras.
Ponho dentro de um LP
do Taiguara.
Tomará milnovecentos e setenta e dois permaneça livre dos olhares da Censura, da Libélula, e não provoque ansiedades incontroláveis…na estátua de Isnard, lá no remanço da Fortaleza.

Estou de joelhos, olhando meus passos distantes dos pés, anunciarem a chegada.
Falarão com os olhos dos torturadores…com a alma dos tatuados…um diálogo…digno dos Palcos do Teatro de Arena.


Dou um tapa na chuva.
E Canto…Menina da Ladeira…Canto de Ossanha…e acho que conquistei o Mundo.
Atrás da geladeira…um par de meias postas a secar…
Recorda…o quanto caminhei…debaixo da chuva…debaixo da sombra de um par de urubus…ao lado do canto de um rouxinol em sua gaiola de buriti.

O par de meias…parceiro inconsolável…chora em si meio Omo…meio Brilhante…
Nunca fui tão adiante…ele sabe.
Agora que caminho de dentro para fora de minha própria paisagem.
Ele espera o calor do motor da geladeira
E desconfia

Luiz Jorge Ferreira

* Do livro de Poemas “Nunca mais vou sair de mim sem levar as Asas” – Rumo Editorial – São Paulo.

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