Poema de agora: Sobre tanques – @juliomiragaia

01/04/1964 – Rio de Janeiro – Tanques tomam as ruas da cidade. Em poucas horas, o presidente João Goulert seria deposto. Iniciava-se a Ditadura Militar, que governaria o Brasil pelos próximos 21 anos. Foto: site Lente Histórica.

Sobre tanques

Para Bertold Brecht, Leon Trotsky, Nahuel Moreno e Pussy Riot

O vosso tanque, General,
é um velho dicionário
retardado,
é uma parede de ignorâncias
tortas

o vosso tanque tem rodas
de mentiras,
tem balas
de burocracia

o vosso tanque, rouco general,
é conduzido
por um soldado cego
que atira
sob tuas ordens surdas

o vosso tanque é o caminho
inverso
do mundo
e que nós vamos derrubar

de Kiev a Caracas
os muros já não se cabem

multi_viralizamos
a ordem canhota no mundo
sem fascistas, reformistas, i-isistas

o nosso tanque, general,
é feito de homens-verdade
de roubar comida, caminho e amor
é feito de primavera
o nosso tanque dispara
revolta

pior,
cospe um velho
vento louco
de luta de classes
no peito podre
dos teus soldados

o nosso tanque
é de aço e futuro
o nosso tanque
é de tempo presente

O nosso tanque,
stalinista, solitário
e enrugado
general,
não é o vosso tanque

o nosso tanque
é de indignados
o nosso tanque
é de queda do muro
o nosso tanque
é vento e coração

Júlio Miragaia

*Poema do livro “O estrangeiro de pedras e ventos” – Belém do Pará, fevereiro de 2014.

 

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