Sobre tanques
Para Bertold Brecht, Leon Trotsky, Nahuel Moreno e Pussy Riot
O vosso tanque, General,
é um velho dicionário
retardado,
é uma parede de ignorâncias
tortas
o vosso tanque tem rodas
de mentiras,
tem balas
de burocracia
o vosso tanque, rouco general,
é conduzido
por um soldado cego
que atira
sob tuas ordens surdas
o vosso tanque é o caminho
inverso
do mundo
e que nós vamos derrubar
de Kiev a Caracas
os muros já não se cabem
multi_viralizamos
a ordem canhota no mundo
sem fascistas, reformistas, i-isistas
o nosso tanque, general,
é feito de homens-verdade
de roubar comida, caminho e amor
é feito de primavera
o nosso tanque dispara
revolta
pior,
cospe um velho
vento louco
de luta de classes
no peito podre
dos teus soldados
o nosso tanque
é de aço e futuro
o nosso tanque
é de tempo presente
O nosso tanque,
stalinista, solitário
e enrugado
general,
não é o vosso tanque
o nosso tanque
é de indignados
o nosso tanque
é de queda do muro
o nosso tanque
é vento e coração
Júlio Miragaia
*Poema do livro “O estrangeiro de pedras e ventos” – Belém do Pará, fevereiro de 2014.
1 Comentário para "Poema de agora: Sobre tanques – @juliomiragaia"
Excelente texto. Parabéns.