SORRATEIRO
Eu vasculho minhas entranhas, a procura de lama.
Eu arranco a pele, e me cubro de mágoas,e me escondo n’água que vaza das lágrimas.
Eu me desosso dos poros aos pólos, e enrolo em novelos de pelos, os planos súbitos e atônitos, que conversamos em off.
Eu oco, seco e só, caminho entre montanhas de pó, vindos da memória.
E se eu morresse sem concluir o enredo cheio de medo de não concluir, com que loto páginas e
parágrafos.
Continuaríamos a ver pelo menos na TV, o Arco Íris?
Como foi com Mao. Vestido de amarelo, sem chinelos e com um enorme desejo de comer Avelãs?
Ainda assim depois de amanhã, um outro amanhã, segue seu vir.
Como se nada houvesse deixado de terminar.
E tudo tivesse deixado de existir.
Desisto…arrumo mangas podres em frente a foto do portão, que a enxurrada levou, junto com Abril.
Luiz Jorge Ferreira
*Poesia escrita em Osasco (SP), na última quinta-feira (8), dia também conhecido como ontem.