Poema de agora: ULTIMAMENTE A BOMBORDO – Luiz Jorge Ferreira

ULTIMAMENTE A BOMBORDO

Depois de amanhã desce um avião da Panair.
Dou-lhe as Boas Vindas, em Janeiro seremos felizes.
Detardezinha o Rio parece vomitar um gosto de sal.


Amanhã os seios de Romilda darão leite.
Mamãe termina o tricô e chama o vento.
E eu que estou querendo saber onde acaba o horizonte…Não sei!

Machuco casca de ferida com o polegar.
O Avião da Panair, desce…parece uma ave sem sem macho…
Talvez houvesse olhado muito de perto os urubus.
O padre fala de anjos loiros, não de pretos angelus.


Para o diabo os anjos!
Olho para o azul lá fora tem tanto.
Mamãe risca com giz seu horizonte, eu apago com o pé.

As feras de madeira na proa das canoas, estão no cio, e as formigas sauvas prontas para voar.
Vão encontrar com os aviões da Panair.
Vão encontrar com os anjos que não tem fimose.

Vejo as primeiras sauvas voarem meio sem jeito.
Ajudo-as com um estilingue.
E por diversas vezes passo a mão nas minhas costas, procuro asas e não as encontro.
Encontro só Acne…pareço tolo.

O dia começa a desaparecer engolido pela noite.
A noite os Anjos não voam.
Os aviões porém voam ruidosamente sobre mim.
Cubro-me eu…com as minhas Asas feitas de trapo.
Para esconder-me do que apaixona.


Zango com Deus e o Diabo.
Arranco as Asas e sangro.
Choro como quem perdeu a Liberdade.
…Depois de amanhã desce um avião da Panair.

Luiz Jorge Ferreira

*Poema publicado no livro Cão Vadio, em 1986, pela Imprensa Oficial do Território Federal do Amapá.

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