Poema de agora: Velho Albatroz – Luiz Jorge Ferreira

Velho Albatroz

Todos os dias, quebro-me ao meio
Como um albatroz cego de encontro ao vento
Giro ao teu redor, como um atônito cata-vento.
sedento de pó e luz.

Posso voltar a voar com uma das asas esculpidas pelo sol, que mergulhou no horizonte.
Para que não estranhes minha ausência, tens meu olhar.
Grafitado lilás no muro ressecado do final da rua.
Ficarei em silêncio, como muitas vezes fiquei.
Mesmo que os sons saídos da boca do rádio, lembrem o outono.
O mesmo em que colhemos frutos, embebidos em sal e mel.

Eu me lembrei dos danos, de rasgar os planos e do sufocar dos anos.
Amarrei a camisa ao redor da cintura e caminhei
Ainda comigo, a asa, agora como uma mordaça, me calando o sopro e sufocando aos sonhos.

Luiz Jorge Ferreira

* Do Livro “Nunca mais sairei de mim Sem levar as asas” – Rumo Editorial-SP- 2019.

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