O ROUBO DA BUNDA – Crônica de Juraci Siqueira

Foto encontrada no Blog Porta Retrato

À época eu trabalhava no açougue do João do Roque que também era dono de um matadouro localizado às proximidades da Fortaleza de São José, tempo em que a orla da cidade era povoada por palafitas que iam da fortaleza a baixada do Elesbão.

Era nesse aglomerado de barracas construídas na praia que se destacava o matadouro aonde o gado, chegado de canoa, era desembarcado com a maré alta e mantido em currais de madeira até o momento do abate.

Certa noite ouviu-se fortes mugidos vindos das bandas do curral, fato que ninguém deu muitas importância, já que era comum uma rês cair e ser pisoteada pelas outras na disputa pelo espaço. Mas como os gemidos continuaram noite a dentro o vigia resolveu verificar o que estava acontecendo.

Antigo Trapiche Eliezer Levi, em frente da capital amapaense (1966) – Foto: Acervo do meu amigo jornalista e estudioso da história do Amapá, Edgar Rodrigues.

Pegou a lanterna e dirigiu-se para o local de onde vinham os mugidos. O que viu foi simplesmente chocante: um novilho sobre uma poça de sangue debatia-se sem a metade da “bunda”, retirada à faca, provavelmente por um canoeiro, dos muitos que encostavam no trapiche do matadouro para embarque e desembarque de mercadoria.

*(Antonio Juraci Siqueira, Acontecências – crônicas da vida simples. Edições Papachibé, Belém, 2010).Contribuição de Fernando Canto.

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