Anteontem (12), o calendário registrou o começo do período do Carnaval, a maior festa popular do Brasil. Mas, infelizmente, ainda vivemos tempos difíceis de pandemia e, por isso, o país não viverá a tradicional “Festa da Carne” (“carnis valles”).
Amo Carnaval, particularmente o de rua, sinto saudade do desfile das escolas de samba e dos blocos Bora lá só tu, A Banda e do Formigueiro (nunca tive fôlego pra chegar até o Pavão e, nos últimos anos, nem no Formigueiro fui mais).
Em razão da grave crise de saúde, é impossível ter carnaval. É realmente um caso de vida ou morte. O momento exige seriedade e respeito pela vida – a nossa e a dos outros. A gente entende, obedece e aplica. Fica em casa, com o coração cinza, e a alma de folião e o coração de brincante sentem falta do colorido.
Carnaval é paixão, só entende quem sente. Há aqueles que acham tudo uma grande besteira, paciência. Mas é inegável o valor da maior festa cultural brasileira.
O Carnaval é uma festa democrática, a alegria do povo. Pena que não teremos, mais uma vez, a rivalidade do Piratão, o Rei do Carnaval, contra os Boêmios do Laguinho, Maracatu da Favela ou Piratas Estilizados. Sem falar do dó de não termos a marcha louca da terça-feira gorda, a nossa tão amada Banda, o maior bloco de sujos do Norte.
Ontem seria noite de eu desfilar pela minha amada escola de samba, a Piratas da Batucada, como fiz desde 1992. Não tenho ziriguidum, não toco surdo de repique, tamborim ou bumbo, tudo pra não atravessar o samba. Também não sou pierrô e nem palhaço, mas sim Rei Momo, mas ainda dá pra andar todo o percurso de A Banda (risos) e cantando a velha marchinha do remador: “Se a canoa não virar, olê, olê, olá, eu chego lá”.
Sim, sempre fui um folião de raça.
E nem me venham com o lance de ser “pão e circo”, isso é argumento furado de quem não entende que essa é a maior festa popular do Brasil.Cheio de memória, arte, homenagens, é muito mais que uma disputa de agremiações em uma grande passeata festiva. O Carnaval é inspiração, vibração, talento, organização, imaginação, arte, luz, cores, alegria, magia e amor. Fala de nossos costumes, história e tradições. Um contagiante evento de luz, cor e muita alegria. Sem falar na importância que possui para a economia.
A Covid-19 não permitirá nada disso. Hoje, arlequins e colombinas choram. Sem carnaval, a dispersão chega, antes do desfile, que nunca virá. Infelizmente, todos nós, amantes da festa, acabamos saindo em uma grande e unificada ala de palhaços tristes. Não ter a festa, é sofrer de desamor.A gente entende o perigo e a importância de não ter. Mas o coração da gente não.
O que resta é esperar a cor que virá depois do cinza. E ela virá (se Deus quiser). Afinal, a festa da carne é isso: ludicidade, beleza e esperança.
Elton Tavares
2 Comentários para "O Carnaval cinza do tempo da pandemia (minha crônica sobre a falta que faz a maior festa cultural brasileira)"
Muito legal…pegou o mote…um riso lacrimado…vai passar…
Chicobuarqueando.
“Não há dor que dure para sempre!
Tudo é vário. Temporário”.
#vaipassar 😉😉😉