Por Orlando Júnior
Eu revisitei um clássico de García Marquez pra tentar entender o que vivemos, e agora acho que cheguei a uma conclusão: nós não nascemos pra viver juntos.
O amor que nos une, nos separa. A vida em um confinamento só te ajuda a saber que você não nasceu para estar junto, calma, não estou fazendo propaganda de separação de casais, mas a conclusão é tão óbvia que não vemos porque queremos forçar uma união que não temos.
Nós precisamos de espaço, de um lugar só nosso (nem que seja o banheiro), ninguém precisa que o outro esteja te olhando fazer o almoço, tirar o lixo ou lavar o tênis. E quando chega a noite e você vai ficar pensando no chulé do tênis que ele/ela não sabe lavar ou que não lava igual a você?
Quem necessita saber que ela/ele faz tudo cantando (muito desafinado), acabando com aquela música que você gosta tanto? Porque isso é importante? Nunca foi.
Rápido, pensa, agora, nos tempos de vírus, qual a necessidade de você saber detalhes da pessoa que é tão querida, mas que também tem tantos adjetivos (bons ou ruins) que você, apesar de estar junto há 5, 10, 15, 30 anos, não conhecia, e não é legal? Nenhuma.
O amor vai prevalecer, mas, seja honesto com você: vai ser PH…ficar lembrando essas merdas. Esse vírus é destrutivo; destrói vidas, não só fisicamente, derruba teu emocional e, pior, acaba com o resto do encanto do outro.
Ele separa, não para sempre (ele é o oposto do juramento do casamento), mas te faz querer estar em outro quarto, sala ou cozinha, porque é impossível sentir tesão por uma pessoa na qual tá se esfregando o dia inteiro.
Porque rememorei o clássico da literatura? simples, em “Amor nos tempos do Cólera”, Gabriel Garcia Márquez cria um triângulo amoroso pra mostrar a complexidade das relações. Essa complexidade é que faz o amor interessante; quando o confinamento torna isso simples, quando mostra, nos mostra a olho nu o outro, fica meio, sabe, sei lá.
Ainda bem que somos mais que um romance do Gabo, e a gente continua se amando, com as lives sertanejas, pagodeiras e melosas (nem vou falar do Big Brother).
No próximo vírus, espero que os chineses, mexicanos, americanos, ou quem quer que seja o responsável, avise, quero fazer um bunker e ficar sozinho com as lives; mas de vez em quando voltar pro aconchego do meu quarto, porque quem gosta de solidão é jogador de paciência.
*Orlando Júnior é professor universitário, bacharel em Direito e servidor de carreira da Justiça Eleitoral, além de figura gente fina e amigo deste editor.