Poema de agora: Do1s (Lara Utzig)


Do1s

Nós
Num nó de dois corpos
Até o nós
Ser um só ser.
Laço de fita,
Menina bonita,
Até desamarrar
Desatar o nó
Do tecido
E (me) amarrar
Em teu quadril despido.
No teu mar de amar,
Par de amor:
A teu dispor
Ponho-me
Pois morrer de amor
É viver o um.
Pois viver o nós…
É ser.

Lara Utzig

Poema de agora: Eremitas urbanos (@idanielsa)


Eremitas urbanos

Quero um chão de terra
molhada por uma chuva fina
que cai e lentamente
lava meu corpo
limpa minha mente
e alimenta meu espírito.

Prefiro esquecer
que continuo vivendo
seco e faminto
por fantasias impuras
de eremitas urbanos
em suas torres de concreto.

Ivan Daniel Amanajás  

Poema de agora: Morada


Morada

Fez-se tempestade em meus olhos com a tua chegada
Era a fim da seca
Dos dias enfeitados de solidão
Dessa metade de mim
A chuva de agora revigora
Vem trazer a esperança
Vem molhar meus lábios secos
Vem encher o rio do meu coração
Deixando um colorido em minha casa
Meus versos
E nas flores da janela que há muito eu não reparava
A chuva de agora trouxe consigo um cheiro novo de paixão
Um sabor novo de pecado
Uma vontade enorme de ficar e
ficar e ficar… morando dentro de tua alma.

PS, te amo.

Poema de agora: Olha-me (Mary Rocha)

Olha-me

olha-me com pureza…
com aquela certeza de quem passou pelo fogo
e não derreteu

com a mágica impressão dos sentidos
que vai além de um gemido
pois se compõe da melodia
que constrói a alma

olha-me com calma
sem aquele velho clichê
que descreve alguém
pela mera aparência
veja-me além
do que a matéria
alcança…

olha-me com esperança!

sinta-me como  a um aroma
um cheiro que não pôde “cair”
de sua mente…

mas,
antes de isso tudo acontecer

olha-me de frente!

veja-me somente
vestida dos princípios
que me constroem

sinta a energia que vem de mim
…simples assim…
como um varal de roupas coloridas
quarando ao sol…

pois eu me faço de versos
mas,
meu “in” verso
também é real…
Mary Rocha

Poema de Quintana, o mestre!


XCVI. DOS HÓSPEDES

Esta vida é uma estranha hospedaria,
De onde se parte quase sempre às tontas,
Pois nunca as nossas malas estão prontas,
E a nossa conta nunca está em dia…


XCVII. DA CALÚNIA

Sorri com tranqüilidade
Quando alguém te calunia.
Quem sabe o que não seria
Se ele dissesse a verdade…


XCVIII. DA EXPERIÊNCIA

A experiência de nada serve à gente.
um médico tardio, distraído:
Põe-se à forjar receitas quando o doente
Já está perdido…


XCIX. DAS DEVOTAS

Depois de todos os encantos idos,
Lhes chega a Devoção, em vôo silencioso,
Coruja triste que só faz o pouso
No oco dos velhos troncos carcomidos…


[Mario Quintana; Espelho Mágico, 1945]

Poema de agora: Justiça (@idanielsa)

Justiça

Semelhança imperfeita
Fragmentos da pureza
Em cabal oposição
E propósito singular
Evoluir e retornar.

Antes só instinto
A maldade subjuga
Todavia a consciência
Encerra no âmago bondade
Cumulada à razão
Educa a existência
Faz buscar a ventura
E residir na divindade.
Ivan Daniel Amanajás

Hoje é Dia do Funcionário público aposentado

Muitos não sabem, mas hoje comemora-se o Dia do Funcionário Público Aposentado e reservamos este espaço para saudar aqueles que dividiram conosco as responsabilidades dos serviços e agora desfrutam da merecida aposentadoria. 


Ao Funcionário Público Aposentado 

É hora de contemplar, 
De ver, que tudo não foi em vão, 
Que as sementes lançadas ao vento, 
Produziram alimentos para o corpo, 
E para o espírito. 

É hora de se orgulhar, 
E de refletir … 
A sua contribuição, 
Dia após dia, 
Foi registrada no tempo, 
E nem mesmo o vento, 
Poderá apagá-la. 

Peças encaixadas com maestria, 
No grande quebra-cabeças da vida. 
Exposto a todos aqueles, 
Que em algum dia 
Também irão dizer: 
EU VENCI!!! 

Fonte: http://www.alegre.es.gov.br/index.php?option=com_k2&view=item&id=255:homenagem-ao-dia-do-funcion%C3%A1rio-p%C3%BAblico-aposentado&Itemid=135

Poema de agora: Recado (@Laritang)


Recado 

Humildade é dom que poucos possuem;
Antipatia é desnecessária, mas muitos assumem.
E a maioria dos que se julgam estrelas
Nem são a última Coca-Cola gelada do deserto:
São encontrados no minibox que estiver mais perto.
Não passam de glitter de qualquer papelaria,
Perdidos entre artigos baratos e velharias,
Entre promoções de queima de estoque.
Você não é tudo isso: se toque!
Lamento informar essa notícia de choque:

Ainda há várias bolachinhas restantes no pacote.

Lara Utzig

Poema de agora: O brilho intenso (@idanielsa)


O brilho intenso 

Ai de mim se um dia meus olhos
deixarem de te olhar nos olhos
dizendo-te, sem palavras,
que eu te amo profundamente!

Não seria mais digno de tê-los.

Foram esses mesmos olhos
que se perderam presos aos teus
sob a luz de um raio de sol
entre as folhas de uma árvore,
surgido para o momento
e eternizado pelo tempo.

E cada vez que os olho,
profundamente,
há um brilho intenso
revelando-me claramente
aquele mesmo ânimo
para a devoção extrema,
como se ainda fosse
à primeira vista.

Ivan Daniel Amanajás

Poema de agora: Transcriação (@Laritang)

Transcriação

Ereção a cada palavra.
O sêmen na caligrafia,
O desejo que escorre em fila,
Os dedos penetram uma linha.
Jorra e se espalha em cores,
A língua sem dissabores.
A preliminar veloz,
A escolha de um título feroz
Que resuma toda a cópula.
Eis que o processo de criação
Nada mais é que procriação
De uma espécie feita de tinta.
Na safadeza explícita,
Não me julgo prostituta
Pois ofereço-me gratuita
A serviço de um verso.
E nesse coito,
Papel-eu-pena,
Masturbo, com carinho, um poema…
E no ápice, sem aborto,
Gozo, enfim, uma estrofe:
– Engole ou cospe?
E orgulhosa, exibo minha cria:
Um orgasmo em poesia.
Lara Utzig

Poema de agora: Tempo de luz (@idanielsa)

Tempo de luz

Declare basta
Indique valentia
E imponha objeção
Chega de angústia
E extirpe a sujeição.

Tua vida tem a luz
Que alimenta teu viver
Com ternura e gratidão
Fazendo-te crescer
E se a ti foi confiada nova luz
Logra desta dádiva
Revelando merecer.

Com valores renovados
É hora da porfia
Tua vida tem mais luz
Ilumina teu propósito
E direciona os teus
Prova a verdade
Que há muito se perdeu.


Ivan Daniel Amanajás

Poema de agora: Expulso Por Bom Motivo (Bertolt Brecht)


Expulso Por Bom Motivo 

Eu cresci como filho
De gente abastada. Meus pais
Me colocaram um colarinho, e me educaram
No hábito de ser servido
E me ensinaram a dar ordens. Mas quando
Já crescido, olhei em torno de mim
Não me agradaram as pessoas da minha classe e me juntei
À gente pequena.
Assim
Eles criaram um traidor, ensinaram-lhe
Suas artes, e ele
Denuncia-os ao inimigo.
Sim, eu conto seus segredos. Fico
Entre o povo e explico
Como eles trapaceiam, e digo o que virá, pois
Estou instruído em seus planos.
O latim de seus clérigos corruptos
Traduzo palavra por palavra em linguagem comum,
Então
Ele se revela uma farsa. Tomo
A balança da sua justiça e mostro
Os pesos falsos. E os seus informantes relatam
Que me encontro entre os despossuídos, quando
Tramam a revolta.
Eles me advertiram e me tomaram
O que ganhei com meu trabalho. E quando me corrigi
Eles foram me caçar, mas
Em minha casa
Encontraram apenas escritos que expunham
Suas tramas contra o povo. Então
Enviaram uma ordem de prisão
Acusando-me de ter idéias baixas, isto é
As idéias da gente baixa.
Aonde vou sou marcado
Aos olhos dos possuidores.
Mas os despossuídos
Lêem a ordem de prisão
E me oferecem abrigo. Você, dizem
Foi expulso por bom motivo.

Bertolt Brecht

Poema de agora: AS BENÇÃOS (Manoel de Barros)


AS BENÇÃOS 

Não tenho a anatomia de uma garça pra receber
em mim os perfumes do azul.
Mas eu recebo.
É uma benção.
Às vezes se tenho uma tristeza, as andorinhas me
namoram mais de perto.
Fico enamorado.
É uma benção.
Logo dou aos caracóis ornamentos de ouro
para que se tornem peregrinos do chão.
Eles se tornam.
É uma benção.
Até alguém já chegou de me ver passar
a mão nos cabelos de Deus!
Eu só queria agradecer.

Manoel de Barros