Da série Crônicas do Fim do Mundo: “Sobre os dogs e os outros humanos” – Por Manoel Duvale

Por Manoel Duvale

Tua vida vale um osso roído, quando você é um dog de rua.

Nada é fácil. O que salva é a sensação de liberdade, de ser bicho solto como naqueles filmes de motos grandes e estradas infinitas.

Sonho de dog leso, zarolhado com o girar da roda das bicicletas, pois já não se garante correr atrás das motos que carregam a liberdade.

E dog de rua é o que mais tem por estes tempos em marcha pela cidade, seguindo o nariz atrás de comida.

Livres, mas com todos os ônus que a vida de bicho solto cobra. Uma matilha de solitários, cuja vida vale um osso roído.

Mais do que seres livres, os dogs são abandonados. Os que nasceram nas ruas, vagam de boa, abicorando um petisco de boa, sonhando com a picanha maturada de boa, uma bola pra brincar de boa.

Pero os perros têm o ímpeto dos guerrilheiros. Marcham silenciosamente focados em manter um horizonte a seguir. Um caos sem dono, assim se parecem as matilhas que sobem e descem as ruas da cidade, ameaçando carros, motos e bicicletas. Mas parecem um bando de quixotes a lutar contra os moinhos do abandono.

Nas lutas pela vida, o dog de rua vai ganhando suas cicatrizes. A do abandono é a mais sofrida. Um Nego Matapacos travando suas lutas solitárias contra o sistema que tritura as gentes e pets. Ele anda sozinho, a matilha não o aceita.

Mas o dog de rua é um forte e segue na sua batalha corriqueira atrás do que comer, uma água fresca debaixo de uma árvore bem barriguda, as que dão as melhores sombras.

O melhor amigo do homem. Mas nem sempre o homem é amigo a ponto de sacar que cachorro também é da família. Não se abandona.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *