Conto de Luiz Jorge Ferreira
O vulto para mim um desconhecido, num banco afastado de onde estou, senta para descansar suando muito.
Sente mais perto, disse acenando com a mão, para que a notasse. Venha!
Ergue-se devagar, puxando fortemente da perna direita.
Aproxima-se limpando os óculos na roupa xadrez. Dá-me a mão e de perto noto que é cego do olho esquerdo, sob longas pestanas meio amareladas.
Enxerga apenas e muito mal, pelo olho direito. Tome…digo e dou-lhe um copo que ainda não havia tocado. Cerveja! Disse quase gritando. Tomou tudo de um gole só devia estar sedento. Depois me olhou como quem não entende mesmo o que se passa.
Os cavalos dos que estavam dentro do bar relincharam.
Eu espalhei um pouco de sal na mão e fiquei passando a língua. Voltei a mil novecentos e quarenta e cinco. Vivia viajando pelas estradas de barro, vendendo roupa por todo o baixo São Francisco, quando cheguei a cidade de Ilhéus. Neste instante fui desperto de meus pensamentos por palmas. Olhei e o carteiro acenava de defronte de uma casa enorme tipo estábulo, com cartas. Seriam cartas para mim?
Larguei o desconhecido bebendo e fui. Fugi dos pensamentos.
Duas éguas fogosas bebiam água no cocho em frente ao Bar quando entrei. Uma delas trazia MR marcado a fogo na ilharga.
Dei a mão suja de sal para que lambesse.
Ela a lambeu com tal jeito que eriçei os pelos.
Quando cheguei ao interior do Bar todo o salão pareceu-me mais escuro e custei mais a definir os rostos. Abri os alforjes cheios de roupas ali protegidas do pó que havia no caminho para Ilhéus. Doido para atravessar a praça em direção ao carteiro.
Aquela estação fora de boas vendas. Bati com os pés no chão. As sapatas de couro estavam ressecadas e como patas amarelas deixaram as marcas deles no desenho como grandes patas, sujando toda a madeira do assoalho por onde eu passava.
Eram muito mais de dezessete horas. Quase abracei o parceiro suado sedento próximo ao balcão. Manoel Raimundo, meu irmão! Manoel levantou-se me pegou pela mão e foi andando em direção a porta.
Antes de sairmos apanhei o saleiro espalhei no dorso mão e pus-me a lambê-la. Só quando chegamos próximo ao cocho dos cavalos. Foi que não suportando mais a sede. Abaixei a cabeça para beber água.
Ai foi quando senti de súbito uma vontade intensa de namorar as éguas suadinhas doutro lado da calçada.
Para chama-las pensei em gritar… alguma coisa como…ei !…ei !…ei !
Mas apenas saiu um relincho forte e alto …
Que atribui ao calor e ao gelado… e disparei em um galope desenfreado, coiceando os cães…
1 Comentário para "Defronte ao Bar Estábulo…Sal para Cavalos velhos – Conto de Luiz Jorge Ferreira"
Parabéns amigo. Mais uma Maravilha do vosso acervo poético. Sucessos. Felicidades artísticas sempre!