E se? (como seria se eu tivesse feito escolhas diferentes?) – Crônica de Elton Tavares – livro “Crônicas De Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”

Ilustração de Ronaldo Rony

Escrever/dizer que “todos somos produtos de nossas escolhas” é chover no molhado, ok? Ok. Entre tantos caminhos, certos ou errados por conta das decisões que tomamos, chegamos aqui. É como disse o filósofo e escritor francês Jean-Paul Sartre: “ser é escolher-se”. Pois é, mesmo com muitos erros, poucos fracassos e muitas reviravoltas, quem me escolheu foi eu mesmo (ou inventou), consequentemente, meus rumos.

Assim como em uma crônica do escritor Luís Fernando Veríssimo, intitulada “Alternativas”, resolvi escrever novamente (de forma sintetizada) sobre escolhas (aventuras e desventuras). Aí saiu esse devaneio aí embaixo:

Tenho 45 anos, sou jornalista, assessor de comunicação, escritor e editor deste site, mas como seria se tivesse feito escolhas diferentes?

Se tivesse escutado mais os meus pais e passado direto em todas as séries e me formado em Belém (PA)? Talvez não tivesse me envolvido em tantas brigas e furadas, mas saberia do que os maus são capazes? Certamente não. Ah, se tivesse continuado com a natação ou o basquete, ao invés de ter começado a beber aos 14 anos? A única certeza é que seria mais saudável e teria ficado tão porrudo.

Se não tivesse ido morar com aquela menina em 1996? E se tivesse me empolgado ao ponto de ir para a Bolívia (BOL) em 2000? Se não tivesse ido para Fortaleza (CE) em 2006? Se não tivesse me enrolado com quem não conhecia de verdade? Se não tivesse me envolvido com tanta gente de lá pra cá…Feito e desfeito laços afetivos? E refeito? Nunca será possível saber.

E se tivesse lido mais livros do que ouvido discos de rock e assistido filmes? Não, prefiro do jeito que foi mesmo. Deu para sorver conhecimento divertindo-me e ainda li bastante, para um cara meio marginal na juventude.

Se tivesse topado aquele convite da chefe de redação do Portal Amazônia e ido morar em Manaus (AM) estaria lá ainda? Se eu tivesse ido trampar naquela revista em Belém há 15 anos? Não tenho certeza, mas se estivesse, seria doloroso, pois sou muito apegado aos meus.

Se não tivesse dito a dura verdade tantas vezes e magoado amigos? Não, prefiro a verdade, doa a quem doer. Arrependimentos ou desculpas não desatam nós ou colam o que se quebrou. Seja lá qual foi a sua escolha no passado, seja nostálgico, triste, feliz ou engraçado. O importante é o hoje e o amanhã, mas isso não impede de pensar como seria?

Se aqueles tiros, em 2001, tivessem me acertado? Se aquele carro na estrada, em 2011, tivesse capotado, ao invés de somente girar várias vezes e sair da rodovia? Estaria vivo ou sequelado? Se não tivesse me metido em tantas brigas de rua, teria aprendido a me defender? Se o carro que acertou em cheio o lado que eu estava, após o motorista do uber que peguei avançar uma preferencial, não tivesse virado um pouquinho o volante, em 2020?

E se em universos paralelos, ou outras dimensões, cada um de nós possui vidas vivendo as outras escolhas? Quem sabe? Não, já é doidice minha.

Se não vivêssemos tantos momentos eufóricos e decepcionantes? De volta aos escritos de Sartre, que falou sobre as consequências de “ter escolhido algo/alguém ou deixado de escolher algo/alguém”. O único arrependimento? Não ter cuidado da saúde e ter virado este gordão. O resto está melhor do que eu pensava.

Com todas as escolhas ao longo da jornada, aprendi que, se você trabalha, faz o bem e não interfere na felicidade alheia, tudo se ajeita com o tempo. E ainda há tempo para muita vida. Sejam quem vocês querem ou pelo menos lutem por isso.

“Sua vida não é feita de decisões que você não toma, ou das atitudes que você não teve, mas sim, daquilo que foi feito! Se bom ou não, penso, é melhor viver do futuro que do passado” – Luís Fernando Veríssimo.

Elton Tavares

*Texto do livro “Crônicas De Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”, de minha autoria, lançado em 2020.

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