Crônica de Telma Miranda
Hoje mais cedo conversava com uma amiga sobre a crise de vergonha alheia que tenho sentido com o passar dos anos, e que só tem aumentado cada vez que vejo alguém julgar e ser julgado, os cancelamentos virais e toda essa onda de opiniões defendidas como teses científicas que acabam com amizades e fazendo o respeito virar artigo de luxo nas relações.
E aí assisto pessoas de credos, cores, raças, origens, opção sexual, time de futebol, ideologia, partido político e tantas outras diferenças se tratarem como inimigos. Declaram guerras inexistentes e mantém guarda alta para toda e qualquer manifestação contrária, repelindo, julgando, xingando. Vejo irmãos, casais, amigos se degladiando sem dó somente por pensarem diferente, competindo num torneio que não há vencedor nem pódio. E isso é triste.
Enquanto isso, eu assisto e morro de vergonha alheia, pois eu cresci acreditando que as diferenças agregam, enriquecem, abrem espaço para discussões, ponderações, diálogos e reflexões. Cresci acreditando que o diferente não é errado, ruim, pior ou condenável. O diferente é apenas diferente. Cada um se aproxima e integra ao que lhe faz bem e completa. E quem pensa diferente, respeita. E aprende sobre o outro lado. E segue, pois o universo é enorme e cabe todo mundo.
E sim, eu posso ser roqueira, e gostar de brega, forró, música sertaneja e pagode. Eu posso amar açaí com charque frito e dar maior valor em vinho com foie gras. Pra que se limitar numa tribo, conceito ou preferência quando podemos ser amplos e experimentar tudo o que a vida pode nos proporcionar?
E nossa humanidade? Nosso traço mais lindo, que nos faz eternos aprendizes, entre acertos e erros que nos impulsionam e constroem? Ah como é bom, lindo e tranquilizador ser humana, imperfeita, errante que caminha sem a rigidez da arrogância do ser pronto e terminado, que geralmente se julga perfeito. Reconhecer em si mesmo e nos outros a humanidade que nos faz carregar o bem e o mal, o certo e o errado, o feio e o bonito dentro de nós, essa dualidade que afasta qualquer possibilidade de superioridade e santidade que nos flexibiliza julgamentos e trás leveza para nosso caminhar, que nos ajuda até rir quando tropeçamos.
Tem gente que demora a perceber, tem gente que não percebe nunca. Outros já nascem sabendo que ser humano é mais do que um conceito abstrato em livros: é vivência, é exercício diário, é se olhar e olhar o outro com mais generosidade, gratidão e perdão. É saber e respeitar que a nossa experiência e sentir é diferente da do outro e que não existe régua, fórmula ou receita. Cada um é um. Ímpar. Único. Raro. E lindo. Sejamos humanos. Sejamos mais humanos. Apenas sejamos. E sigamos mais dando as mãos que apontando. Pensa ai!
* Telma Miranda é advogada, fã de literatura, música e amiga deste editor.
3 Comentários para "Humanos, somos todos humanos – Crônica de Telma Miranda – @telmamiranda"
Amo
Somos seres lindos na essência…. mais algumas se modificam….. enfim isso é ser humano…
Parabéns
Verdade Telma a humanidade precisa de luz, temos que ser mais humano em dias de tempestade é isso que somos tratados todos os dias. Parabéns pela crônica.