Por Gutemberg de Vilhena Silva
A cidade de Kourou, na Guiana Francesa, estará no centro das atenções do mundo agora em dezembro, principalmente para quem se dedica ou é apaixonado por astronomia. De Kourou será lançado o telescópio James Webb (Foto 1), um megaprojeto de U$ 10 Bilhões que surgiu por uma parceria entre agências espaciais da América do Norte e da Europa Ocidental com o objetivo de fornecer dados sobre a complexa formação do Universo e de suas estruturas, o que inclui o sistema solar, exoplanetas, física e tipos estelares, buracos negros supermassivos e busca por sinais de habitabilidade potencial. Com essa colossal meta, ele ocupará a posição de principal observatório de ciências espaciais do mundo até então ocupado pelo telescópio Hubble.
O telescópio olhará para quase 14 bilhões de anos, desde os primeiros feixes de luz criados após o big bang e assim analisará com maior precisão que seu antecessor o Universo, incluindo as primeiras formações de galáxias. Para isso, o James Webb observará o Universo no infravermelho – em comprimentos de onda maiores do que a luz visível, a partir de um conjunto de câmeras, espectrógrafos e coronógrafos de ponta. Para chegar em solo guianense, o telescópio viajou da Estação das Armas Navais de Seal Bech, na Califórnia, até o porto de Pariacabo, em Kourou, por 16 dias, passando pelo Canal do Panamá.
Mas por que será lançado da Guiana Francesa? A localização geográfica de Kourou cumpre dois requisitos fundamentais: o primeiro é o de estar perto do equador (apenas 4 graus ao norte) de modo que assim consuma menos energia para entrar em órbita do que em outras partes do planeta; em segundo, porque aquela base de lançadores está numa posição próxima do oceano Atlântico, o que impede que problemas com os lançamentos afetem áreas habitadas.
A base de lançamento em Kourou é considerada o “porto espacial da Europa”, pois há lançamentos regulares, com economia de combustível como já visto, por meio de três diferentes lançadores. O primeiro, utilizado há 4 décadas e que está em sua quinta versão, é o Ariane, líder mundial no mercado de satélites comerciais, com uma média de seis lançamentos por ano e por onde será lançado o James Webb. Os outros dois lançadores, o russo Soyuz e o italiano Vega, permitem variar a gama de satélites apoiados pelo Ariane.
Com uma base física montada para abrigar toda a complexa estrutura aeroespacial, a Guiana Francesa tornou-se uma vitrine de uso de tecnologia de ponta na região das Guianas sob o comando do Centro Espacial Guianense (CSG). É um mercado altamente cobiçado com envio de satélites de observação, como é o caso do James Webb, e de telecomunicações. Tais equipamentos se tornaram essenciais para a defesa, a meteorologia, a transmissão de dados, o sistema audiovisual e agora para ampliarmos o conhecimento da história do universo e de sua composição ainda desconhecida.
* Gutemberg de Vilhena Silva é pesquisador e professor na Universidade Federal do Amapá. Contato: E-mail: [email protected]