Poema de agora: AS REFERENCIAS PERDIDAS – Patricia Cattani

AS REFERENCIAS PERDIDAS

As referencias perdidas.
Quantas historias deixarão de serem contadas aos netos.
E os segredos entre avos e netos? quantos não serão mais compartilhados?
As experiencias de vida, das vidas que agora se vão, milhares delas, todos os dias, por todo o mundo.
Quantas historias não serão mais ouvidas?
Historias alegres e tristes
De guerras, de amores,
historias de vida, contadas por seus protagonistas
Historias de um cotidiano tão diverso do nosso, mas ao mesmo tempo tão nosso, quanto deles foram.

PHOTOGRAPH: TIM PLATT/GETTY IMAGES

Historias de honras, de dignidades, de felicidades e dificuldades de outrora.
Dos bailes antigos, das charretes, dos bondinhos, dos croches, das profissões que já não mais existem, das telefonistas, das praças…
Os sábios conselhos e experiencias que tanto nos ajudam em nossas escolhas.
Estamos perdendo as caminhadas lentas com eles, nas praças e calçadões, que tanto nos ensinam a ter paciência.
Estamos perdendo os laços com o passado, que nos mostram de onde viemos e o quanto tem deles no nosso presente
Estamos perdendo eles…
Perdemos pais e avôs para as guerras, agora estamos perdendo mães e avós…
Sinto que estamos perdendo a linha do tempo… enquanto a linha do novelo de lã é esquecida na cadeira de balanço que permanece solitária.
teremos um mundo mais jovem e mais perdido, sem referências.


Não estamos perdendo idosos para o covid-19.
Estamos perdendo a sabedoria do mundo, estamos perdendo nossas mais preciosas referências, Estamos perdendo uma parte valiosa de nos.

Patricia Cattani

  • Belo texto, mas não estou surpreso,
    De Patricia se pode esperar textos de puro sarcasmo, ironia e ate humor negro, ou de uma sensibilidade que nos toca a alma.
    Impossível não pensar no meu povo italiano que estão indo embora aos montes…
    Impossível não lembrar das historias de minha mãe Ana e toda a sua doçura, ou de meu pai Italo, fugitivo de um campo de concentração na Alemanhã.
    E o que dizer de minha avo Caterina, que havia passado por duas guerras mundiais, com quem aprendi a fazer sopa de urtiga e a coletar funghi nos bosques, e a ouvir as historias do tempo das guerras e como ela enterrava a comida da família para que soldados não levasse via.

  • Poema sobre a memória muito bem construído. Se perdemos, também esquecemos e nos silenciamos. Parabéns, poeta pela verdade fita com arte.

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