Poema de agora: Habitabilidade – Luiz Jorge Ferreira

Habitabilidade

Dentro do meu coração vazio.
Passam as pegadas azuis de um destino ao léu.
Eu chamo por mim, e me amo.
Ouço entre os sons harmônicos que a brisa provoca ao soprar os lençóis dependurados na cerca.


Um Som de Guitarras tocando Renato e seus Blue Caps…
Ouço um som de passos, podem ser dos teus sapatos pisando na minha solidão.
Digo isso por serem ímpares e descompassarem meu coração,
que eu tinha acabado de embrulhar para presente.


Ando mais desligado que agora quando erro o acento tônico na última vogal.
Ando espalhando Creme Glostora nos cabelos da minha foto de 30 anos atrás.
Ando descobrindo ilusões nas ilustrações de Guernica.
Egoísta, guardo comigo um… “se lixa para a dor”…

Danço com minha sombra um Tango.
Noto que ela engordou…
Há de ver que abusou das balas de hortelã.
Ouve… e vai embora.
Continuo dançando, há horas que danço, e batem a porta…
Há de ser a lua, que da rua, ouviu, eu discutir com o meu coração.
Danço com ela… da janela o Sol observa, em um mormaço de dor e raiva.


Fecho a luz… Jogo Gardel
em Pessoa, rasgo as cortinas, com elas faço… asas.
Jogarei meu coração de cima de um penhasco para a felicidade geral das paixões.

Luiz Jorge Ferreira

 

*Osasco (SP) -27.02.2021, um chuvoso dia de sol.

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