Lições da Infância
Quando criança,
sob as calçadas encardidas da Salvador Diniz
Aprendi que o céu era o limite!
E que o mapa encantado até a chegada existia
Ao fim dos pulinhos da amarelinha,
Desafio nosso de cada dia…
Oceano era a lagoa do quintal do meu avô
O tesouro, sempre ao fim do arco-íris
Os dragões eram vencidos por príncipes
E éramos grandes navegadores a navegar
E tudo parecia ter o seu lugar…
Passadas décadas, ruas e avenidas
Desaprendi esquinas
Pois a máquina de engolir vida
Apagou as linhas finas
Que apontavam por onde caminhar…
Agora, sigo desalinhada
Sei pouco sobre certezas e chegadas
Canso de ouvir – e escrever –
as mesmas palavras
e não sei onde dobrar…
Queria ter outra tarde
Daquelas mornas e empoeiradas de infância
Brincar de correr para todo lado
E ao fim do dia correr para o colo encantado
Dos olhos de mel da minha irmã…
Mas a máquina de engolir vida
Segue a comer lembranças
E aquela esperança vive
Da luz que existe na memória
Daquelas velhas histórias
Repetidas antes de sonhar!
Jaci Rocha
4 Comentários para "Poema de agora: Lições da Infância – Jaci Rocha"
Me fez chorar a minha bruxinha…
Mas eu gosto mesmo é quando te faço rir, vampirinha.
<3. 🙂
Memória é mesmo o sustentáculo. Mesmo às incertezas da vida a poesia vence qualquer coisa. Parabéns, poeta.
Uma grande alegria ser lida por uma das minhas referências literárias mais frequentes e felizes. Obrigada, querido poeta.