Me alimento de quadros vivos
Me alimento de quadros vivos
e
telas frescas
que sempre esperam a pincelada final,
daqui da minha janela,
o tempo corre apressado
e o ano novo alvoroçado
quer a todo custo aparecer…
mas,
não é tão simples pintar em aquarela
o caminho da própria vida
a um minuto de acontecer…
então me rabisco,
me risco e
me apago
e nem sempre consigo me reescrever
é mais fácil
deixar que o vento leve… ou que me traga um
novo pedaço de papel vazio de vivências
melhor não aprofundar
é complicado inventar
grandes mudanças em uma tela iniciada
por vezes
é mais simples desistir…
só deixar ir
o que não se consegue encaixar em lugar algum…
sim…
é até compreensível abdicar de entender
e
ignorar o que tanto dói ao ponto de quase enlouquecer
melhor esquecer e
nem pensar qual o traço deixou a alma amassada
ainda que,
no meio da estrada
o mundo inteiro não fale nada
e esse silêncio seja devastador!
*Mary Rocha é advogada e poeta.