Poema de agora: O Espectro – Ori Fonseca

Ilustração: A Invisibilidade da Pobreza. Pintura 3D de Kevin Lee.

O Espectro

A tua mão sem peso, a tua voz sem fala,
Sem sombra a tua carne, o teu suor sem cheiro.
Invizibilizado desde o dia primeiro
Em que grunhiste um choro que a cidade cala.
Teu passo é sem pegada, a consistência é rala
De teu sangue sem cor a derramar-se inteiro
Debaixo das marquises, no chão brasileiro,
Colhido pelo esgoto, achado pela bala.
Tu alma vaga insana em outra dimensão,
És um fantasma, espectro informe e transparente,
Um vulto indefinido em meio a tanta gente.
A gente que tropeça em tua solidão,
A gente que tem olhos, mas não tem visão…
Gente que esbarra em teu fantasma e não te sente.

Ori Fonseca

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