RAMSÉS
ainda faz escuro lá fora
viro pro lado e não há o que ver
me estico e apago a luz já fraca
[uma vela no candelabro]
inesperadamente
ele entra pela janela
já não pede licença
[eu permito, claro]
me agrada e acaricia
chego a pensar que ele me ama
me convenço quando
se atira aos meus pés
e me lança o olhar
mais doce dessa semana
[seu olho é um brilho raro]
desce as escadas antes de mim
pra me sorrir lá de baixo
com seus dentes de marfim
[e um hálito de orvalho]
sei que ele não tem coração
e deve pular outras janelas
mas me rendo aos seus carinhos
e lhe sirvo a melhor refeição
[agradece com um longo miado]
e ele
nem mesmo
é o meu gato…
PAT ANDRADE