Poema de agora: Varal Colorido – Luiz Jorge Ferreira

Varal Colorido

No Outono os cães ladram menos.
Eu continuo a criar Poemas para minha mãe.
Recolho do chão entre folhas repletas do odor de peras podres, sílabas proparoxítonas, como serpentes coloridas.
As estendo entre o trópico de câncer e o trópico de capricórnio.
Atravesso o quintal onde a lua acende o olhar de mamãe em direção ao Grupo Escolar Azevedo Costa, que nem de costas está, nem de Carnaval gosta.

Outono tem o Aniversário do Jurista Câmara Alves …que nunca esteve em Macapá.
Hoje sentado em volta de uma mesa…
Satisfeito com a nobreza da luz dançando com as suas retinas.
Inaugura o ano de 92 em sua vida.

Os cães ladram em surdina…e em Jerusalém o tataraneto do jumentinho que carregou Cristo em direção ao início do seu Calvário.
Observa que as aves de arribação vieram todas do Norte.
Ela gorjeiam para o Outono, e saltitam entre suas próprias sombras todas cônicas.

Queria eu perguntar por Deus.
Mas os cães abafam meus gritos, latindo.
Eu me satisfaço em completar o desenho da Lua Nova no chão, no meio das folhas podres, com cheiro de peras podres.

Mãe…Mãe…não adormeça…é Outono.
Os cães já não latem…uivam para Vênus…mas o carro do lixo..
atabalhoadamente…nos arrasta!
Estranhamente ele carrega o Poema, os Poetas,a calçada, o quintal, o olhar, o cheiro de peras podres, que a memória guarda, e quando desaparece na esquina.
Sobram os cães, então eu posso começar a me aproximar, desde que a sede me acompanhe.

Luiz Jorge Ferreira

 

* Do livro “Nunca mais vou sair de mim, sem levar as Asas”.

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