As últimas reflexões de um bêbado quase sensato – Conto Bukowskiano de Lorena Queiroz – @LorenaadvLorena

Conto Bukowskiano de Lorena Queiroz

Em sua visão distorcida e alterada pelo alto nível de álcool em seu sangue, se concentra em uma corda – Que merda de nó difícil de arrumar. Agora tem que fazer curso de forca pra conseguir se matar nessa merda! Bem, vou passar essa parte aqui por cima dessa viga. Essa cadeira deve servir, aguentou os cem quilos da velha Amália, vai aguentar o peso desse velho otário que só quer sair deste mundo.

Mas eu não saio daqui sem música! Entrei nesse mundo sob o berrante do capeta, certeza! Vou escolher uma playlist para deixá-lo. Hum, Jards Macalé. Sem essa é uma boa escolha pra quem quer se matar, ô letrinha que já é uma baita ajuda.

Inauguro meu porre de despedida, aqui falando sozinho. Vou partir bêbado dessa merda. Não aguentei a vida no pelo quem dirá a morte. E quem vai pra casa não se molha. Não é assim que dizem?! E também, eu sei que anos me deixaram cada vez mais sozinho, além de toda essa cagada que eu me acostumei a fazer. Não reclamo, o isolamento me ajudou a gostar cada vez mais da minha companhia, hoje eu sou o único que bebe comigo. Vinho tinto com cerveja! Melhor ressaca, mas não pretendo estar aqui para recebê-la !

Merda, soluço! Não bebe rápido demais velho burro! Caralho, como eu amo essa sensação de foda-se que os entorpecentes trazem. Engraçado, nunca fiz apologia a nada, faço apologia às experiencias. E claro, experimentei alguns aditivos para sentir, para viver algumas coisas, deixa eu ver: álcool, LSD, maconha, me apaixonar, mas o álcool sempre foi meu carro chefe.

E hoje nenhuma dessas coisas fazem sentido pra mim, ou fazem, já que o que me trouxe até aqui foram esses dias: dever grana, levar chifre, transar com desconhecidas, trair quem ama, amanhecer na rua bebendo com gente mais triste que eu, essas coisas. E Como eu me irritava quando não podia ser livre, puta que pariu! Quem mais sofreu com isso foi Alice, a primeira que me deixou.

Aquela desgraçada misturava metade da minha cerveja com outra sem álcool, queria iludir meu fígado, doida. Eram tantos os cuidados comigo, mas quando fiquei desempregado, escondia a porra de um vinho caro que ganhou da tia. Esfregava todos os boletos do mundo na minha cara, meu rabo já tinha um código de barras. Quando o amor acaba até as moedas são cobradas. Foi embora, estava saindo caro demais me aturar.

Depois veio a Lourdes, essa me fodeu de tudo quanto foi jeito, fiz dívidas, chorei feito um corno e ela me batia na cara, mas me deu anos de cu sem reclamar. Acabou que me trouxe bastante alegria, até o momento que o filho da vizinha lhe chamou pra trabalhar no mercado dele e ela se tornou sua esposa. Por fim a Bia, a última que me deixou, meu antigo e morto casamento. Enjoei dessa música, peraí, agora sim So, so you think you can tell, heaven from hell?

A Bia amava essa música, foi a última paixão da minha vida. Engraçado que ela me fazia recordar da minha infância, família. Coisas que eu não pensava por iniciativa própria. Foi ela que guardou essas fotografias, vamos ver. Como eu tinha cabelos. A casa na praia, nunca mais retornei depois disso.

Bia foi a única que não escolheu ir. Engraçado pensar que um velho teve uma mãe, queria lembrar mais da voz dela. Eita, um fodido que agora no fim da vida está lembrando das três que atanazaram alguns dos meus anos, respectivamente crente, aposentada e morta. Nem sei quem teve o pior destino. Ah, enfim consegui ajustar essa corda. Hum, o que temos aqui? Como não tinha te visto antes, simpático Cabernet? Vamos ter que adiar mais uma vez essa execução.

Eu (editor deste site) e Lorena Queiroz.

*Lorena Queiroz é advogada, amante de literatura, devoradora compulsiva de livros e crítica literária oficial deste site, além disso é escritora contista e cronista. E, ainda, mãe de duas meninas lindas, prima/irmã amada deste editor.

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