Bar Cantinho do Céu – Conto de Luiz Jorge Ferreira

Conto de Luiz Jorge Ferreira

O local tinha sido um bar…
Com a vinda da Pandemia… e a morte de Seu Sotero…e a ida de Dona Generosa, para Ananindeua no interior do Pará, fecharam-se as portas, a sua falência, pegou todos os seus fregueses sobreviventes da grave doença,  de surpresa, em uma surpresa anunciada, os clientes se recusavam a usar máscaras, manterem distância regulamentar, jogavam suas partidas de Sinuca, seus tira teimas no Dominó, suas apostas na “purrinha” de bebidas geladas, suas partidas de Carteado as mais cobiçadas pelos frequentadores pois haviam apostas de quem estava jogando e de quem apenas olhava os jogadores mais famosos das redondezas, ou até vindo de outros bairros, com todos falando alto, e todos a vontade, como se cerrada as portas do “Cantinho do Céu”… pois esse era o nome do Bar aberto desde cedo da manhã até por volta de 22hrs, nenhuma Praga pudesse entrar…

Agora tudo passado para o passado…

Os herdeiros, que eram apenas três, resolveram vender o que restava do Bar… sem a manutenção diária, sem os cuidados de limpeza, e o recolhimento do lixo por muito abandonado, tornara-se um terreno baldio ocupado por uma construção de madeira sem o aspecto nenhum do que fôra… A vizinhança via aquela agitação de máquinas e trabalhadores retirando o madeirame, e as louças de banheiro e sanitário, pasmas… que será que iam construir em substituição do Bar Cantinho do Céu…

Em primeiro lugar nos terrenos totalmente limpos…demarcaram quadras milimetricamente iguais, e construíram no centro disso tudo uma casinha à semelhança de uma Capelinha…
Em seguida cercaram toda a extensão do terreno repartido em quadras com um muro de regular altura dos seus três lados e na parte da frente menor e separados por quatro grandes portões de ferro em forma de lanças de pontas afiadas.

Toda a vizinhança apostava no destino que se daria aquela obra quase concluída…
Uns apostavam em um Condomínio… vila de casas populares pelo tamanho das quadras já demarcadas…
Depois plantaram vasos de flores e pequenas árvores em toda a extensão das quadras formando corredores, ruelas arborizadas…
Os antigos frequentadores de tardezinha se deixavam ficar sentados a frente da obra, distraídos conversando entre si, sobre os anos que foram felizes no aconchego do Cantinho do Céu…
Muitos felizes tempo contado em anos…

Um certo dia a obra foi concluída… veio um caminhão tri-articulado já era de noite, de uma noite escura e fria, e ninguém da vizinhança se arriscou a sair para olhar o que parecia ser uma estrutura à semelhança de uma placa enorme dividida em três partes…
Dizem os que por lá moram… que nem as três Comadres mais curiosas do bairro se arriscaram a sair para conferir a novidade…
De manhã cedinho, como se combinado estivessem, se encontraram defronte da obra… a grande placa tinha sido montada mas ainda estava protegida por um grande plástico…
Havia trabalhadores se aprontando para retirá-la.


Ficaram eufóricas… seriam as primeiras do bairro, a ver por fim que serventia teria aquele apronto todo.
Entre si comentavam que fôra uma noite de sono assustado…
Sim… Comadre.
Sim.
Comigo também… Dona Alessandra.
Barulho de batidas, como se fosse alguém jogando Dominó,  igualmente era quando o Bar existia, os barulho de copos…
Comadre eu ouvi até ruído de descarga de Sanitário…
Cruz credo… Comadre Luiza…
Noite pavorosa… espero nunca mais ter uma dessa…
E as comadres se benzeram.

Os homens cortaram as cordas do plástico que cobria a grande Placa de Neon, com certeza ficaria acesa a noite.
… leram-na estupefatas…
Park Memorial Horizontal.
Cemitério Valetes e Damas.
Seja Bem-vindo!

Osasco, SP, Brasil.
25.09.2022.

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