Careca, Aldemir França e Tonhão do SBT e a Enfermeira de BH, Brasil uma fábrica de Heróis – Crônica de Marcelo Guido

Crônica de Marcelo Guido

Macapá, terça-feira um encontro de dois jornalistas, redação de jornal ?. Não, reunião de trabalho, até que foi, local, Padeirinho. Um complexo de lazer localizado na frente da Assembleia de Deus, um local longe de tentações e com tudo que um ser humano coeso, trabalhador e oriundo de um mundo onde as entranhas da vida te empurram a mesmice precisa para relaxar, futebol, bilhar e cerveja gelada.

Em tal lugar estava eu e o Marco Antônio, no cardápio litrões de Brahma e jogo Vasco. Pra mim realmente é a perfeição.

Entre confabulações e histórias sobre politica, apresentamos soluções para tudo, menos para o ataque o Vasco que naquela noite realmente estava mais travado que eu, era bola na trave, era passando perto, o gol parecia ser realmente um santo graal a ser perseguido por atacantes que ate inspiração tinham, mas pareciam atuar pelo Botafogo, o tradicional não levou mais fez bonito.

Resultado do jogo um 1×1 com eu cogitando ser injusto pelo que o time apresentou em campo, arranquei gargalhadas de meu companheiro de mesa que simplesmente dizia, meu time joga amanhã, sabe Serie A, mal sabia ele que minha tese que o Botafogo é a atual fase bônus do brasileirão se confirmaria no jogo contra o Santos na quarta feira.

Entre goles de cerveja, cigarros acesos e idas ao banheiro, lembramos sabe se lá o porquê da enfermeira de BH, que em um ato heroico aplicou soro fisiológico nos músculos de ricaços mineiros, nem enfermeira era, chegamos a conclusão que tal mulher deveria ser canonizada pelo castigo imposto a quem pelo poder do dinheiro e ganância achou se no direito de furar a fila das vacinas, na moral ela foi digna de brinde e de nossa admiração.

A noite vai passando e o Marco, que longe de ser da geração “Enzo”, já é muito velho para isso, faz a seguinte pergunta:

“ Marcelo, vi o Ronaldo jogar, mas antes dele quem era o cara da 9 na seleção, já ouvi falar do Careca, mas confesso que não vi jogar e não sei muito”, ajeitei os óculos , que já são meus olhos, sabe idade, e cruzei as pernas, e do alto de minha alta intelectualidade futebolística expliquei ao cristão novo, que sim existia vida na camisa 9 do Brasil antes do fenômeno.

Careca foi um excepcional jogador, que garantiu o titulo do São Paulo em 86, sendo artilheiro do campeonato nacional, que fez a frente ofensiva do Napoli um sonho, do lado nada mais nada menos que MARADONA, dançou lambada na bandeirinha em 90 e foi imitado pelo deus negro Roger Milla, Careca foi um outro que pelo que fez em campo, principalmente no “Calcio”, a terra da bota (sim, aquela que chutou o pica pau) se rendeu ao talento dele. Outro herói.

Lá pelas tantas, nos vem o assunto do Garrincha, o anjo de pernas tortas, não sei se por que antes falamos da grande Elza Soares, que partiu para estrelas por esses tempos, mas o assunto era o jogo que o ponteiro da seleção fez em Macapá nos anos 70, no Glicerão, precisamos contar essa história, mas ouvindo alguém que estava lá, que jogou com ele ou contra ele.

E ai já na quarta feira, entra nosso terceiro herói, Aldemir Furtado França, uma lenda do futebol local, nas próprias palavras o 10, entendam o cara foi 10 no time que tinha o Garrincha na frente, porra bichos, em 58 e 62 na seleção o 10 era o Pelé. Estávamos naquela tarde de quarta na frente da história viva, um ser que esteve em campo a favor e contra um dos maiores de todos os tempo, guardando comparações Nilton Santos, a enciclopédia do futebol, jogou uma vez contra saiu de campo e ordenou a os dirigentes do Glorioso “ Contrata, não jogo mais contra ele”, todo o futebol de grande Nilton Santos, não o impediu de tomar uma bolada na cabeça do meu amigo Alex Rodrigues na escolinha, mas essa é outra história.

Então, estávamos eu e Marco frente a frente com Aldemir, hoje um senhor de boa conversa, que deixou a gente radiante com suas histórias não só do jogo, mas de como ganhou o Copão da Amazônia pelo Macapá, de como levantou o caneco pelo Ypiranga, clube pelo qual foi o camisa 10, presidente e técnico, uma vida dedicada ao negro anil, ele estava lá nos altos dos seus 68 anos, trajando uma camisa do time da paroquia com as cores da Inter de Milão, terra do Padre Vitório, que de certo gostava do Calcio, vencido pelo careca. A camisa era bonita, mas não entra na minha coleção, sou torcedor do Trem, e o campeonato de 92, está atravessado na minha goela, gol do Miranda é o caralho.

Saímos de tão grata entrevista e no Orós, depois de um litro de garapa (caldo de cana, seus criados em apartamentos e bebedores de Gatorade) e 6 pastéis 3 pra cada atacante, firmamos compromisso de estarmos consolidados financeiramente em 10 anos para que ?

Para assumir um clube desses e ganhar o estadual. Tem que ser louco que nem a gente para ter tal objetivo na vida.

Enfim, na noite de quarta procurando algo na TV, sem netflix como faziam os velhos maias, coloco no SBT, já puto da vida querendo saber por que compram a Libertadores e não passam a porra do jogo ou um programa esportivo, ficam passando sei lá “A procura de Poliana”, es que me aparece um gincana do programa do Ratinho.

Tal brincadeira consistia em colocar com um chute certeiro a bola em um gol, fórmula manjada, maestro Júnior já fez isso mas na globo, es que Carlos Massa promove o último herói deste texto, Tonhão do SBT, um cara que de certo foi escolhido por ser diferenciado no futebol da firma. A figura padrão do trabalhador brasileiro, bigode, gola polo surrada, cara crachá no peito, rosto de quem fuma plaza. Desafiado por Ratinho que lhe prometera 100 mil reais por um chute certeiro, na gaveta, onde a coruja dorme.

Tonhão de primeira deu uma senhora chapada, no ângulo, 100 mil na conta, festa geral, eu vibrei, faltou Tonhão no Vasco na noite de terça, falta Tonhão no Botafogo, ele deveria ter jogado com Careca, Maradona, Garrincha e Aldemir, ele deveria ter vacinado os ricos de BH. Foi sério, aquele chute sem dúvidas deixariam com inveja Rogério Ceni, Zico, Marcelinho , Craque Neto, Juninho Pernambucano não, esse é o maior de todos, esse fez o gol monumental.

Um adendo, o prêmio vai ser repartido com quem disse que ele era diferenciado, Tonhão do SBT, mais um exemplo de herói.

No fim eu chego a real conclusão que o Brasil, apesar de tudo é sim uma grande fábrica de heróis. E esta foi uma terça e quarta feira na minha vida.

*Marcelo Guido é Jornalista, pai da Lanna e do Bento e maridão da Bia.

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