Famílias tradicionais procuram MP-AP para alinhar ações de responsabilidade ambiental para preservação da cultura

Com a proximidade do início do Ciclo do Marabaixo 2019, famílias tradicionais do bairro Laguinho reuniram-se na manhã desta quinta-feira, 11, com o promotor Marcelo Moreira, da Promotoria de Meio Ambiente, para alinhar medidas para que os festejos aconteçam com obediência às leis ambientais. O objetivo deles é a adoção, em parceria com o Ministério Público do Amapá (MP-AP) de medidas para uma adequação dos resíduos sólidos, plantio de árvores e adequação de nível sonoro durante o cumprimento do calendário do Ciclo.

A iniciativa partiu dos organizadores dos festejos no Laguinho, descendentes de pioneiros da tradição do marabaixo, mestres Pavão e Julião Ramos, que são as duas famílias que há décadas dão continuidade às homenagens para a Santíssima Trindade e Divino Espírito Santo no bairro. Mônica Ramos, Ana Lúcia Ramos, Iran Ramos e Laura Silva foram recebidos pelo promotor, que ouviu suas propostas e se comprometeu em convidar e pactuar com órgãos fiscalizadores e famílias, para que sejam esclarecidas sobre as obrigações de cada ente com relação às leis ambientais.

Foto: Max Renê

Ciclo do Marabaixo

É uma tradição proveniente do início do povoamento de Macapá, que foi levada do centro da cidade pelas primeiras famílias que ocuparam os bairros Laguinho e Favela, atual Santa Rita, em que se homenageia a Santíssima Trindade e o Divino Espírito Santo. O calendário do Ciclo é fundamentado no catolicismo, com início na Semana Santa e encerra no dia de Corpus Christi. Durante os aproximadamente dois meses de festejos, são realizadas rodas de marabaixo, bailes de sócios, novenas, missas, oferecimento de café da manhã, almoço e jantar, e ritual como da retirada e derrubada dos mastros.

No Laguinho, pela tradição de louvar a Santíssima e o Divino, o Ciclo é maior que o da Favela, e além das cerimônias religiosas, constam seis rodas de marabaixo e dois bailes dançantes, que são os eventos mais prolongados, com a presença de público maior e alvos constantes de denúncias de poluição sonora. No início do Ciclo são retirados do Curiau, no total, oito troncos de árvores, que são utilizados durante todo o período. O uso de fogos de artifícios também é um costume original do Ciclo, e alvo de denúncias.

Laura Silva, educadora e atual presidente da Associação Raimundo Ladislau, relatou que na casa de sua avó, onde o Ciclo é realizado, o som é dentro dos limites legais, porém é comum a presença da Polícia Militar em razão de denúncias, que são constatadas na maioria das vezes como infundadas. “Geralmente quem faz as denúncias não conhece a tradição do Ciclo do Marabaixo e se sente incomodado por ignorar a importância cultural e religiosa, acham que é só um monte de negros bêbados e que ficam rodando em círculos. E a presença desnecessária da PM acaba contribuindo com a marginalização do marabaixo. É constrangedor ter uma viatura na porta da casa de nossos pais e avós, colabora para a discriminação ”.

A também educadora Mônica Ramos citou situações semelhantes com relação ao som, e afirmou que a cada final de roda de marabaixo ou baile, a família e integrantes do grupo Marabaixo do Pavão fazem a limpeza da rua. Ela pede que a Prefeitura de Macapá seja acionada e oriente os ambulantes que ocupam o lado oposto da casa, para que sejam responsáveis por seu lixo, evitando assim, que a via amanheça suja e a culpa recaia sobre os participantes dos eventos.

Elas buscam parceria com o Ministério Público do Amapá (MP-AP) e órgãos fiscalizadores e ambientais com o propósito de uma melhor adequação e resposta do Ciclo do Marabaixo às preocupações ambientais. Se responsabilizaram ainda por fazer o plantio de árvores como forma de repor as que são retiradas da mata, no ritual do corte do mastro, para compensar o meio ambiente, e de realizar ações de conscientização ambiental com os participantes do Ciclo do Marabaixo e vizinhança. “Estamos assumindo um compromisso para que esta tradição não acabe por intolerância e nem seja marginalizada. Somos os responsáveis por manter os costumes deixados por nossos antepassados, e queremos compreensão e respeito”, disse Mônica Ramos.

O promotor Marcelo Moreira, também coordenador do Centro de Apoio Operacional do Meio Ambiente (Caop/AMB), parabenizou a iniciativa das famílias tradicionais, e afirmou não ser justo a criminalização de uma cultura como o Ciclo do Marabaixo. Confirmou que irá chamar os representantes de órgãos fiscalizadores para uma reunião com as famílias, onde sejam explicadas as obrigações de cada um e limites. “Recebo com muita gratidão este grupo que luta pela preservação de sua história, e que passa a enxergar o Ministério Público com olhos cidadãos, e como aliados da cidadania. Precisamos desta aproximação para alinharmos atitudes e responsabilidades. A defesa das manifestações culturais da sociedade é parte da proteção de um ambiente social, cultural e ambientalmente adequado.”

SERVIÇO:

Mariléia Maciel – Assessora Operacional – CAOP/AMB
Assessoria de Comunicação do Ministério Público do Amapá
Contato: (96) 3198-1616
E-mail: [email protected]

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