Por Laura Machado e Willian Amanajás, g1 AP e Rede Amazônica
Jornadas autobiográficas e mudanças ao longo da vida. É sobre isso que tratam duas produções amapaenses que concorrem na 21ª edição do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, realizado pela Academia Brasileira de Cinema e Artes Audiovisuais. O documentário “Utopia” e o curta-metragem animado “Solitude” disputam em duas categorias do prêmio que é considerado o “Oscar brasileiro”.
As duas obras estão concorrendo para votação dos membros da academia ainda em primeiro turno. Após essa etapa, serão escolhidos 5 selecionados de cada categoria para concorrer à final.
Sonhos preciosos
“Utopia” é um dos indicados na categoria curta-documentário do prêmio do cinema brasileiro. A obra dirigida por Rayane Penha, é um grande feito para o cinema amapaense, além de resgatar memórias da própria diretora, que é filha de garimpeiro.
O filme é traduzido em fotos, vídeos e cartas que o pai escrevia para a filha, documentando as experiências e dificuldades de quem vive no garimpo. O cenário da produção é o próprio garimpo do Vila Nova, localizado no município de Porto Grande, distante a 103 quilômetros de Macapá.
“É muito desafiador! Não esperava estar em um espaço como esse, em que normalmente a gente não se enxerga. Já notamos uma diferença, principalmente por ver mais pessoas negras nesses espaços. Mas é complicado ver que eu sou uma mulher negra, do Amapá, em um local que não costuma ter pessoas como eu”, afirmou Rayane Penha.
Com o foco no olhar humanitário para quem vai em busca do sonho de mudar de vida nos garimpos, o filme se tornou uma homenagem ao pai de Rayane Penha, que faleceu em um acidente durante o trabalho.
A cineasta morou até os 10 anos de idade no garimpo onde o documentário foi desenvolvido e deu vida às memórias através do audiovisual.
A produção, que já participou de mais de 30 festivais e amostras, foi custeada pelo 1º Edital de Produção Audiovisual do Amapá em 2017, e ganhou repercussão nacional pela qualidade e sensibilidade com que foi criada.
Autoconhecimento nas telas
A obra “Solitude”, dirigida e roteirizada pela artista Tami Martins, foi o primeiro filme de animação feito no Amapá com recursos da Agência Nacional do Cinema (Ancine).
A produção, que também recebeu financiamento do 1º Edital de Produção Audiovisual, concorre à categoria ‘curta-metragem de animação’ no mesmo prêmio.
A história mostra a busca da protagonista “Sol” pelo autoconhecimento e a mudança pessoal após o término conturbado de um relacionamento amoroso.
Nos 15 minutos da animação em 2D são retratados lugares conhecidos dos macapaenses: como o Igarapé das Mulheres, no bairro Perpétuo Socorro, que também já inspirou outras obras, como a canção de Osmar Júnior, que leva o mesmo nome no trecho que fica na orla de Macapá.
“Assim como o Solitude, o Utopia é mais uma produção resultado do 1° Edital do Audiovisual do Amapá de 2017 […]. Dois filmes amapaenses, dirigidos por mulheres negras, sendo indicados pela 1ª vez a esse prêmio, mostra a potência do audiovisual do Amapá. Para mim é uma grande honra estar representando nosso estado ao lado da imensa Rayane Penha, que além de inspiração constante para mim, é também uma grande amiga”, contou Tami Martins.
Em 2021, a animação ganhou o troféu Redentor de melhor curta-metragem na 23ª edição do Festival do Rio, o maior da América Latina.
Fonte: G1 Amapá.