Invasão Bárbara – Crônica de Evandro Luiz

Crônica de Evandro Luiz

A vida na vila Solimões com os seus 180 habitantes, parecia ter parado no tempo. Os habitantes daquela região viviam da caça, pesca e de uma agricultura de subsistência. Dificilmente saíam da comunidade. Quando isso era necessário, era apenas para fazer compras de remédios, e material para pescaria. De Solimões para Jacaréacanga, o município vizinho mais próximo, em condições normais era uma viagem de uma hora e meia. Mas no verão quando os ventos chegam a bater até 40 quilômetros por hora, o tempo de viagem dobrava e tinha que contar com a habilidade dos marujos.

Para cumprir a missão são chamados os mais experientes que possam cumprir a jornada. E assim a vida transcorria em ritmo de preamar. Mas um certo dia, os moradores começaram a ouvir barulhos estranhos, eram iguais a explosões vindo de longe, Isso começou a preocupar os moradores já que cada dia ficavam mais intensos. Mais assustados ficaram quando apareceu um objeto com um formato oval passando bem devagar por cima da vila. Tinha cerca de 120 metros de cumprimento.

Uns falavam que tinha formato de uma baleia. O ano era de 1941. O estranho objeto ia na direção de onde vinham os grandes barulhos. E a cada dia o movimento ficava mais intenso. Em um fim de tarde, não mais tão tranquilo como antes, uma embarcação nunca vista pelos moradores da vila, atracava no porto. Um senhor aparentando 60 anos, com uma roupa verde, armado, vinha na frente. Dava sinais claros que ele era o comandante da expedição. Falou alguma coisa, mas ninguém entendeu nada.

Um outro homem foi chamado para servir como intérprete. Ele disse que estava sendo construída uma Base Aérea ali perto. E a Vila Solimões seria um ponto de apoio, e que o governo brasileiro estava de acordo. A tranquilidade era agora coisa do passado. Quando chegavam informações da presença de submarinos alemães na costa brasileira, aviões saíam da base aérea e passavam levando com eles o patriotismo do moradores da vila.

Base Aérea no município de Amapá (AP) – Foto: acervo do jornalista Edgar Rodrigues

No retorno da missão, os militares faziam festa. Com o fim da guerra, os americanos entregaram a Base Aérea para o governo brasileiro. Mas nem tudo era festa. Nove meses depois da partida dos gringos, uma geração de crianças loiras de olhos azuis chegavam para marcar um tempo de amor e guerra.

  • Admiro e acompanho as obras e reportagens de Evandro Luiz, por um simples fato, ele continua sendo um profissional que narra o geral, política, polícia, cultura, cidade e etc, é completo, é documentarista, faz o que gosta e faz o público ler até o final cada edição.

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