Por Marcelo Guido
Ah, o futebol! Para alguns insensatos seres, um esporte. Para incautos de coração triste, “só um jogo”. Mal sabem eles que o futebol respira, ama; tem paixão nas veias. Futebol é sangue, é vontade! Talvez a mais humana das invenções. Abençoada por deuses que, por vez ou outra, aprontam das suas.
E foi assim que se deu essa história…
Entre 1992/93, o Mogi Mirim Esporte Clube assombrou os grandes de São Paulo que ousaram atravessar seu caminho. Um mal falado esquema tático, o famigerado 3-5-2, bolado pela cabeça de um certo Oswaldo Alvarez, hoje muito conhecido como Vadão.
O Sapo, com seu traje branco e vermelho, colocava os adversários para rodar, e via tal comparação com fantástica Holanda de 74. Estava vivo o Carrossel Caipira, onde nenhum jogador guardava posição.
A velocidade do time parecia ser surreal, e a cadência do jogo era ditada de forma que o Mogi sabia o momento certo de apunhalar sua vítima. O time não ganhava jogos, ele construía vitórias.
Fazendo de sua casa – o charmoso Vail Chaves – um verdadeiro alçapão, onde a emoção e o orgulho interiorano eram as marcas principais. O Mogi, para os clubes da capital, era o “Terror do Interior”.
A formula do “bom, bonito e barato” foi a farinha que deu início ao bolo. Apostando na prata da casa, em contrações de clubes menos badalados no cenário nacional e em jogadores sem espaço em suas grandes equipes, o Mogi fez história.
No gol, estava Mauri; Polaco, Admilson, Ildo, Marcão e Luiz Carlos Guarnieri completavam a defesa.
Na meia, onde corre o talento, encontravam se Capone, Fernando, Luiz Simplício, Lelís, Chiquinho e Valber.
No ataque, Leto, Rivaldo e Sandro Gaúcho eram os responsáveis por balançar as redes dos incautos adversários. Essa era a base do time.
O time jogava por música, e tudo dava certo. Em grande fase, os caras aprontaram pra cima do já todo-poderoso Palmeiras. Os dólares lácteos da Parmalat não foram páreo para o talento interiorano do Mogi: vitória histórica por 2×1 em pleno Parque Antártica.
Os três zagueiros, os alas em linha com os meias e a dupla de ataque deixavam muito desconfiados os amantes da bola – mas as críticas não abalaram o time que se sagrou campeão da copa “90 anos da Federação”; foi líder do grupo B do campeonato Paulista e quase chegou as finais em 1992. Vítima do regulamento em 1993, foi o clube que menos perdeu, mas mesmo assim ficou de fora da segunda fase – coisas do futebol.
Foi finalista do “Torneio João Havelange” – um pequeno Rio-São Paulo – eliminando o Timão e vendendo cara a final nos pênaltis para o Vasco da Gama. Venceu o torneio “Ricardo Teixeira”, em uma final contra o Bangu que lhe garantiu na série B de 1994.
A viagem deste fantástico time acabou no meio de 1993, pelas razões de sempre que acompanham a sina dos clubes do interior.
Os destaques:
Admilson: lateral que sabia jogar, fazia com o que a pelota chegasse livre ao ataque; Capone: campeão da Copa do Brasil pelo Juventude, campeão da Copa da UEFA e supercopa da UEFA pelo Galatasaray; Valber era o talento em estado bruto do time, o craque. Leto: atacante clássico – era o cheiro do gol. Rivaldo: o melhor do Mundo, o dez do pentacampeonato. Sandro Gaúcho: calou um Maracanã inteiro, com dois tentos pelo Ramalhão.
Mas fica na memória de quem os viu jogar juntos, um futebol vistoso, suave; um verdadeiro espetáculo, onde só os Deuses da bola poderiam colocar tanto talento em um clube só.
Os que presenciaram, aplaudiram de pé as apresentações do Carrossel e sem dúvida alguma fica na memória dos amantes do futebol esse belo exemplar de plantel.
Que nunca seja esquecida a história do Mogi Mirim, o lábaro alvirrubro há de tremular novamente no caminho das vitórias.
*Marcelo Guido é Jornalista. Pai da Lanna Guido e do Bento Guido. Maridão da Bia.