No céu da minha infância – Pequena crônica nostálgica de Ronaldo Rodrigues

Pequena crônica nostálgica de Ronaldo Rodrigues

Quando eu era criança, bem criança mesmo (mais do que sou hoje), ainda morando em Curuçá, interior do Pará, costumava ficar olhando o céu. Hábito de sonhador, que já se revelava naquela época. Era raro um avião cruzar o céu de Curuçá, não porque os aviões não fossem numerosos, mas pelo fato de Curuçá ficar (como ainda hoje) fora das rotas aeronáuticas.

Nas raras vezes em que um avião entrava no espaço aéreo da minha cidadezinha, eu ficava vendo o avião voando alto, lá longe, se perdendo entre as nuvens. E ficava desejando que ele caísse. Eita! Que coisa para um menino pensar! Mas eu explico a partir da próxima linha.

Na minha compreensão das coisas, do ponto de vista de uma criança, o avião era do tamanho que eu o via, diminuído pela distância.

– Se ele cair lá no bosque, por exemplo, vou lá, pego e brinco com ele.

Bela ideia, se o avião fosse mesmo diminuto, do tamanho que ele ocupava no meu campo de visão. O bosque era (e é) um espaço abençoado, cheio de imensas árvores, que ficava bem perto de casa. Eu não imaginava que, se o meu desejo se concretizasse e o avião caísse, o bosque (limitado, por um lado, pelo cemitério da cidade e, pelo outro lado, pelo grupo escolar onde eu estudava) seria reduzido a cinzas. E sobraria um pedaço dessa destruição para a minha casa.

Lembro de me gabar do meu possível brinquedo, sonhando fazer inveja aos outros meninos. Quem teria um brinquedo assim? Alguns meninos, os riquinhos da cidade, tinham avião de brinquedo, mas não como aquele, que voava de verdade, sem o auxílio das mãos.

Estou lembrando disso motivado pelo voo de alguns aviões que vi nos noticiários. Aviões de combate, levantando voo para causar destruição. Coisa de adulto. Prefiro ficar com o avião de brinquedo/de verdade lá da minha infância. O meu pequeno mundo estava livre de guerras e o meu céu só tinha espaço para a inofensiva imaginação de um menino.

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