O bar de Yeye – Conto de Luiz Jorge Ferreira

Conto de Luiz Jorge Ferreira

A Yeye a senhora que trabalhava em casa há muitos anos, vinda de Belém do Pará, trazida por minha esposa, e recomendada por minha sogra, aposentou-se depois de trinta anos de trabalho, tendo inclusive ajudado na tarefa de auxiliar as crianças em sua criação, nas suas atividades do dia a dia, tal como banho, encontrar os sapatos, os chinelos, as tiaras, acertar franjas… etc… etc…

Yeye, que se chamava Maria de Nazaré Viana de Castro, foi uma profissional cumpridora de suas tarefas, e tornou-se uma pessoa da família. Chegou mesmo a se aposentar nessas tarefas todas.

Yeye criava canários, pintassilgos, cães, gatos, um loro cego do olho direito que xingava em Nagô, aprendido em seu tempo de moradia em Oiapoque, e em francês cantava marselhesa, e Edith Piaf Hynme a L’amour… primeira parte porque na segunda punha-se a chorar…

Passava horas conversando com as tartarugas após lhes banhar com água e as massagear com um pouco de azeite para lhes lubrificar os cascos. Todos lhe entendiam, e ela se entendia com todos.


As crianças cresceram, foram embora para outras cidades e o trabalho ficou resumido a limpeza da casa e ao cuidar dos animais e o preparo da alimentação que também era coisa pouca, porque eu passava a maior parte da semana no trabalho em outro município e por lá fazia as refeições. Nos momentos de folga dediquei-me como hobby a um curso de ventríloquo amador… coisa que me deu muita alegria e a possibilidade de brincar com amigos. Treinei bastante nas horas vagas e já conseguia projetar a ilusão da voz anasalada a uma distância de uns 5 metros…

Yeye andava muito triste, conversando com ela sobre o motivo… tive a impressão de que começará a beber, e que suas novas amizades no bar mais perto da única farmácia do bairro, agora consumia muito seu tempo, o que a fazia se descuidar do trato dos animais, que já começavam a apresentar marcas deste descuido, perdas exageradas de penas, perda de peso dos cães e gatos, casco ressecado nas tartarugas, e tristeza do velho loro que enrouquecido cantava Edith Piaf, dois tons abaixo.

Dei de presente uma viagem para Yeye ir rever seus parentes em Belém do Pará, e férias de 90 dias, para que eu pudesse contratar um mestre de obras para fazer uma reforma que tinha em mente…
Para cuidar dos animais pedi ajuda a um casal vizinho que também criava passarinhos, gatos e alguns cães.

De modo que eles até se animaram mais… recuperaram penas, cascos e pelos, e voltaram a gorjear, tomar banho de sol e o loro voltou a xingar os times pelo qual não torcia… focando no goleiro, que ele chamava de guarda-metas, coisa herdada de uma vizinhança luzitana pelos bairro do jurunas em Belém, muitos anos atrás.


Os pedreiros terminaram o trabalho e eu gostei do resultado. Uma das tardes de sábado fui até o bar onde Yeye bebia com os amigos, razão da sua alegria, e vi poucos frequentadores, estava “às moscas”… fui até a moça detrás do balcão e indaguei por todos os veteranos cujo apelidos havia levado anotado um pedaço de papel.

De quem tanto ela contava casos e gafes. Lamentável disse-me ela, com essa pandemia, a maior parte deles adoeceu e faleceram, os que escaparam ficaram muito ruins, não conseguem vir aqui… sabemos notícias deles por seus parentes quando os encontramos.  Triste.


Declinou o nome de muitos deles, que não moravam longe dali, os boêmios têm preferência sempre por lugares próximos as suas residências para evitar longas caminhadas com o “tanque cheio”.  Anotei tudo e dei um até logo.

Yeye chega. Vem de táxi. Traz na bagagem quase toda a flora Amazônica, e da fauna muitos mosquitos escondidos nos vasos de espada de São Jorge e latinhas de “comigo ninguém pode” e uma gaiola coberta com um pano fino servindo de capa. Peço que a vizinha lhe tampe os olhos e só os descubra na cozinha.

Agora depois da reforma fisicamente duble do bar que ela frequentava e na parede as imagens dos parceiros que há muito custo tinha conseguido que um retratista os desenhassem.. Um toca disco recuperado com LP’s variados, esses emprestados do bar, e uns dois ou três da vizinhança fazendo número.

Os animais dispostos no quintal com visão para a porta aberta aumentada de tamanho, a semelhança de um saloon dos filmes de bang bang… e o Loro sobre um varal de madeira extenso que o permitia se movimentar em quase toda a extensão do bar que cozinha agora imitava. Cantaram parabéns, embora não fosse seu aniversário e retiraram o pano dos seus olhos.

Houve choro e Yeye quase desmaia de feliz. o Loro gritava feliz. Mais feliz ficou quando descobriram a gaiola que ela havia trazido e ele viu a Lora de penas coloridas e vistosas. Quando eu subi a noite para dormir ainda ouvia os gritos do Loro, agora já com a voz rouca:

Tragam ela para cá…
Tragam ela para cá…

  • Me decepcionei. Cacei mais textos. Mais histórias e você me corta o barato? Isso não se faz. É frustrar o leitor. Da outra vez, dá um jeito de criar mais roteiros. Esticar esse conto. Triste ter que dar razão para quem disse: se quer saber se o texto é bom, é quando acaba no exato momento que você está se ajeitando para continuar a ler.

  • Obrigados…estes comentários são estímulos…
    Usados para o estímulo da escrita…imaginar é uma sina…escrever…outra !
    Vlw.

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