O ENFORCADO – Crônica de Juraci Siqueira (Contribuição de Fernando Canto).

Eu trabalhava numa padaria próxima de casa onde meus irmãos e outros garotos da vizinhança pegavam pão para vender mediante comissão. Na época havia um grande movimento de embarcações na Doca da Fortaleza, formada pela foz de um igarapé, na época ainda não era canalizado. Havia grande disputa entre os meninos vendedores para pegar os pães da primeira fornada, lá pelas cinco da manhã, pois quem chegasse primeiro até os canoeiros tinha venda garantida. Geralmente disputavam a primazia na base da porrinha ou do par-ou-ímpar. Jorge, meu irmão caçula, o Cebinho, neste dia tirou a sorte grande e saiu na frente com seu saco de pães às costas. Minutos depois estava de volta com todos os pães e, fazendo jus ao apelido, pálido que só uma vela. Indagado pelo porquê da desistência, falou que estava com dor de dente e que iria esperar o próximo garoto para saírem juntos. Em verdade o que o Cebinho queria não era companhia, era uma testemunha que, pela ordem de saída, recaiu no Rubinho. Às proximidades do Mercado Municipal, bate no ombro do colega e aponta para um poste de iluminação pública. Foi uma carreira só! Os dois chegaram apavorados na padaria afirmando que havia um homem enforcado pendurado num poste. Alvoroço geral! Todos correm para ver o defunto e voltam de lá morrendo de rir: o morto em questão era um baita Judas de Sábado de Aleluia que alguém, deixara à noite em cumprimento à tradição popular.

*(Antonio Juraci Siqueira, Acontecências – crônicas da vida simples. Edições Papachibé, Belém, 2010). Contribuição de Fernando Canto.

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