Pétalas de chuva – Crônica de Márcia Corrêa
Era assim a madrugada com ausência da chuva, silenciosa, desatenta, acabrunhada. É a chuva que lhe dá sentido, eleva sua valsa de rumores para a condição de hino dos amantes, dos amores, dos rubores e pecados inocentes. Sem a chuva, a madrugada é oca. Sem a pele do inverno, desidrata a lágrima da Amazônia.
Então, é em si uma trégua para que a gente de todo lugar sinta o calor do abandono com tanta força, que a solidão de ser vida se faça grito na sofreguidão. Ainda que o abandono não seja de verdade, enquanto o que houver por dentro de cada um for mistério, transformação.
Só a chuva é capaz de explicar a infinitude, a incompletude das horas, necessário caminho mais sólido que o fim da madrugada. Porque ela, a madrugada, solfeja ao vento enquanto se dissolve imperceptível, haurindo delicadamente o esplendor do dia.
Então não há fim, muito menos começo. Mas, haverá sempre o recomeço para mostrar que o amor é a estrada sagrada e sem aflição. O amor é o lago das pétalas de chuva respingadas com a sutileza da perfeição. É o que é, desde que o arremedo da paixão se cure na sabedoria.
*Publicado originalmente no Blog Papel de Seda, em 24 de janeiro de 2013.
**Márcia Corrêa é jornalista, servidora pública e ativista cultural.
2 Comentários para "Pétalas de chuva – Crônica de Márcia Corrêa – @marciamazonia"
Muito obrigada, amigo.
Obrigado, Marcinha. Vc é uma cronista-poeta da chuva.