O BANHO DE ÁPACAM
Agora Deus ergue
o rio Amazonas
em sua cuia de prata
e derrama-o sobre a cidade.
Cai o rio sobre a cidade
lava a lama urbana,
leva-a à vala a vasa
que a levara um dia,
a leva leviana
que nunca a amara.
Em mim a cidade mora
jamais se mura!
Vejo-a agora à água pura
a se banhar lá fora.
Lá fora a cidade se dá
à veracidade do seu batismo cristiano,
amo ver a cidade a mover-se
em seu asseio suburbano.
Em seu seio subo
e abano com asas de ébano
de um banal tucano
o que não lava
o caudaloso banho;
– este rio é Deus
em estado líquido
por isto ser deste tamanho!
Límpida a cidade
está, agora – focos à cidade
para que vejam a sua cor.
Invejará lhe a aurora
ao ver à sua cara
o áurico cosmético que a cora.
Do alto obelisco
onde eu hábil a belisco
e o seu poeta mora,
oro à esta hora à sua
limpeza santa, à
sua fragrância nata
à sua beleza tanta
com essa tez de mata
– esplendorosa infanta
à luz da sua ribalta;
o céu é sua ribalta!
Joãozinho Gomes
*Ápacam : Macapá ao contrário.