Poema de agora: Restauração – Patrícia Andrade

Restauração

nas noites insones
o olho arde e grita
a dor antiga

[violência instituída]

não há polícia que a contenha
não há Estado que a evite

na memória do corpo
a marca profunda
o abuso inconcebível

[irremediável ferida]

não há xarope que cure
não há pomada que cicatrize

mas é carne dura; resiste
constrói pontes interiores
pra vencer os abismos
rasgados pelo tempo

[vai sorrindo seu riso triste]

recolhe estilhaços
procura conserto
pro coração aos pedaços

[acredita que é possível
colar os cacos]

esbarra no limite da vida
chega ao limiar da morte
mas ainda persiste

sabe que nada sai de graça
e se refaz bem devagar

usa amor como argamassa

Patrícia Andrade

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