Restauração
nas noites insones
o olho arde e grita
a dor antiga
[violência instituída]
não há polícia que a contenha
não há Estado que a evite
na memória do corpo
a marca profunda
o abuso inconcebível
[irremediável ferida]
não há xarope que cure
não há pomada que cicatrize
mas é carne dura; resiste
constrói pontes interiores
pra vencer os abismos
rasgados pelo tempo
[vai sorrindo seu riso triste]
recolhe estilhaços
procura conserto
pro coração aos pedaços
[acredita que é possível
colar os cacos]
esbarra no limite da vida
chega ao limiar da morte
mas ainda persiste
sabe que nada sai de graça
e se refaz bem devagar
usa amor como argamassa
Patrícia Andrade