Telhas Quebradas
Quando tocava El Reloj nas festas do Diretório Estudantil no Grêmio defronte de casa, na Av. Ernestino Borges.
E a Banda exuberava nos sopros e as baquetas do Biroba soavam como Violinos Vienenses.
Eu, deitado em uma rede sem cor, que carregava dentro dela, meus sonos, meu sonhos, e o grafite do meu corpo magro, nela desenhado, meu coração a si próprio atropelava, e acelerava como a caçamba da Prefeitura dirigida pelo Congó em direção ao Curiaú.
Deus ria.
Eu nem sabia onde o amor morava, mas flertava com o brilho das estrelas, que infiltravam sua luz pelas frestas das telhas quebradas.
Havia em mim um estranho desejo de tirar a vida para dançar.
Mas eu ainda não sabia se a vida era apenas aquela sede amarga no calor da noite abafada que eu tentava afugentar com dois goles d’água quentes vindas do pote de barro descascado.
Ou a vida, era a felicidade de ver o Carapanã saciado abandonar os meus pés, e ir ouvir o resto do Bolero, entre as fimbrias do Mosquiteiro.
Eu escutava de onde eu estava o Nando dos Cometas emitir com voz aveludada a terceira parte da Música em um acorde mais agudo, e aquele trinado permanecia no peito por dias e eu me flagrava atravessando o campo Escoteiro, cedinho, indo a aula no IETA, solfejando… “detém as horas te peço, faz está noite perpetua, para que meu bem não se afaste de mim, para que não amanheça […]”.
Logo as estrelas, agora apagadas pela luz do Sol.
Espremiam a grama sob meus pés, pousadas em meus ombros.
Ou eram elas ou eram meus sonhos que tolos e franzinos, se escondiam debaixo da marquise do Grêmio Estudantil.
Dormi.
Hoje desenho meu rosto imberbe nos dias, mas eles estão sujeitos a noites.
Não acho as telhas.
Onde esqueci o Relógio.
Luiz Jorge Ferreira
*Poema Quase Memorial de Luiz Jorge Ferreira, Osasco – SP. 02/09/2020 – Do livro “Defronte da Boca da Noite ficam os dias de Ontem”.