O GUARDADOR DA PAISAGEM
Por Fernando Canto
Este novo livro de poesias de Rostan Martins conduz o leitor a refletir sobre os momentos de sabedoria produzidos pela profunda experiência da vida prosaica e intelectiva do autor.
Ao absorver as próprias vivências – matéria-prima essencial para a construção dos seus textos – o poeta parece clivar todas as pedras do caminho pela forma com que lida com a sinceridade e com o fingimento, características estas dos poetas bons e maduros. Mas o fardo de fingidor não pesa tanto quando se desfaz das máscaras necessárias para conduzir seu sonho, pois sua poesia também se recicla na medida em que o poeta se faz de vadio, de “guardador da paisagem”, nessa antinomia do silêncio, um silêncio que brada: assaz contradição no voo-rasteiro, do réptil-avoante a passear no nível das águas vazantes. Ele trata sem espanto essa contradita forma de viver, quando “eu e as lemas estamos no mesmo nível/ fazemos os mesmos silêncios”. É aí, então, que o som, a surdez, o silêncio e o barulho se harmonizam e caem suavemente sobre a dádiva do sonho e dentro do rio da realidade à sua frente. Ele lembra que as lesmas e os caracóis têm seu próprio silêncio nos seus universos: o privilégio e arte de morar em si mesmo.
A recorrência das palavras silêncio e vadiagem perpassam signos linguísticos e metaforizam desejos, mas o poeta ainda joga “pedras no tempo”, o tempo que lhe absorve e se estranha no horizonte não desperto, mesmo que esse tempo seja água, a passageira permanente do rio do seu veleiro.
O cotidiano da poesia de Rostan Martins se esconde nas relações de amor e no humor claro vindo do baú semântico de suas criações, onde todas as dores são amenizadas pela força do Johrei. Os silêncios não são dores, os barulhos não são dores, são eventos indisfarçáveis da orquestra que toca a música da vida, nessa poesia que tem o coração (des)crente do poeta transformado pela vozeria do silêncio.
Agora, necessário se faz também deixar a paisagem guardada por ele entrar pela janela dos olhos, pedir licença ao guardador (ou não) e deixar o silêncio, a luz do equador e o murmúrio das ondas tocar a música da poesia.