Resenha literária do livro “Poemas e um amor”, de José Pastana – Por Fernando Canto

Por Fernando Canto

O artista que fez a capa do livro em análise foi muito feliz ao expressar no seu desenho a essência do poeta. Em primeiro plano, a rosa púrpura quebrada sobre uma mesa esvai-se em lágrimas, talvez por se sentir perseguida e oprimida por uma lagarta colorida que aparentemente desce (ou sobe) em uma linha amarrada ao talo espinhoso da flor, cujas folhas o inseto devorou.

Nota-se nos poemas um constante confronto nas temáticas dos textos de José Pastana. Algo dialético e significante, pois são variados, versáteis e se envolvem às vezes, gerando um resultado estilístico positivo. Entretanto, o autor se vale de uma linguagem hipercomunicativa pela simplicidade dos seus escritos, onde o amor mora em todas as cavernas e escaninhos. Ele se vale também de formas prosaicas de construção de poesias, como o soneto, por exemplo. Seus versos denotam uma grande capacidade de expressar sentimentos à deusa do Amor, ainda que lhe custe caro a opressão da religiosidade que carrega em suas costas, sem se libertar a contento, mas experimentando outras formas e outras manifestações inspirativas que o levam a dimensões mais reflexivas, pois “ O bardo transita entre o real e o imaginário/ Das mãos surge a arte que advém do coração” (Inspiração). E assim ele expressa seu conhecimento de mundo e provoca outros poetas, para também questionarem o seu devir e ofício. E melhor, adere, sem timidez, a sua
qualidade de poeta amazônico, tematizando sobre as coisas da região e, sobretudo do Amapá, terra em que nasceu. Conta de sua revolta sobre as mazelas deixadas pela colonização portuguesa e sobre os negros africanos escravizados, através de uma leitura histórica e humanística. A fé do poeta é um dos aspectos também expressos nos seus versos. A fé se transforma em Amor, que é a base de toda a sua produção neste novo trabalho, embora, como falamos acima, se perceba um escape implícito na sua religiosidade. Ele esbraveja com a história, mas se envolve definitivamente com o sagrado.

Talvez por isso a ilustração de capa traga uma lagarta, que tem, entre o indianos, o duplo preconceito que se liga à larva, que é um gênio malfazejo e ao animal rastejante em geral. Porém, um dos livros sagrados dos hindus fez desse inseto o símbolo da transmigração, em função da maneira pela qual ele passa de uma folha à outra, e do estado de larva aos de crisálida e borboleta, assim como a vida passa de uma manifestação corporal a outra, significando também leveza, uma sensação de imagens oníricas que evocam a dança, um véu transparente e flutuante, a música e tudo o que é aéreo. Trata-se de uma liberação que pode ser buscada pela superação.

Quebrado ou não, o talo amarrado e quebrado da rosa pode também significar uma mudança, pois o sangue nela derramado ou por ela vertido é um renascimento místico. Bela e famosa, é a flor mais empregada no ocidente. E mais do que isso, tornou-se o símbolo do amor e do dom do amor, do amor puro.

E o amor expresso nos poemas das páginas deste livro, trazem o amor que transcende qualquer paixão ou sentimento sofrido. O amor, o amor puro, são todos os poemas.

SERVIÇO:

Lançamento: dia 08.11.2019
Local: Biblioteca Pública Elcy Lacerda
Hora: 19h00
Capa: Dekko
PASTANA, José. Poemas e um amor. Cronoset. Macapá, 2019.

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