Trabalho acadêmico de ex-aluno de Teatro é selecionado em projeto do Itaú Cultural

O trabalho de conclusão de curso do ex-aluno de Licenciatura em Teatro, da Universidade Federal do Amapá (Unifap), Kai Henrique Fernandes, foi um dos 20 selecionados no terceiro edital de seleção nacional de trabalhos de pesquisa estudantil em artes cênicas promovido pelo projeto a_ponte – cena do teatro universitário, do Instituto Itaú Cultural. Os trabalhos escolhidos em editais anteriores foram publicados nos livros da série Pontilhados e a previsão é que os trabalhos selecionados em 2023 compunham uma nova edição da série.

“Revisitando (Trans)Midiático: Autobiografia Trans”, título do trabalho acadêmico de Kai Henrique Fernandes, relata sua trajetória de transição de gênero e como este processo reverberou na sua formação acadêmica em Teatro. Durante o processo de pesquisa para a elaboração do trabalho, o ex-aluno realizou um experimento cênico utilizando a cena expandida intermedial, que é uma técnica que busca a interação entre o real e o virtual por meio da projeção de imagens em tempo real ou pré-gravadas.

“[Pelo experimento cênico] eu abordo as minhas memórias, as minhas vivências, as minhas tristezas, as minhas felicidades, a busca pela vida. O meu TCC [Trabalho de Conclusão de Curso] parte das minhas experiências como uma pessoa transgênero, então eu relato nele meu processo desde quando eu era criança, quando me descobri, como foi esse processo aqui na região Norte e como a graduação contribuiu para desenvolver minha pesquisa durante os três anos que estive envolvido na iniciação científica”, descreve Kai Henrique.

Natural de Piracicaba (SP), Kai Henrique Fernandes reside no estado desde 2018, ano que ingressou na Unifap. O ex-aluno de Teatro é estudante destaque na graduação, tendo sido bolsista de Iniciação Científica, premiado como melhor trabalho no Congresso de Iniciação Científica na área de Artes e Educação em 2021 e acumula publicações em periódicos e eventos, além de ter tido um capítulo de livro aceito para o e-book do Seminário Franco-brasileiro de Pesquisa-criação, que será publicado em formato bilíngue (francês e português) pela editora da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

Kai Henrique destacou que a graduação na Unifap foi importante não só pela oportunidade de desenvolver a vida acadêmica, mas também pelos reflexos positivos na vida pessoal. “A pesquisa fez com que eu conseguisse sobreviver, na verdade. A graduação foi importante para mim porque ela contribuiu para minha existência, acabou me salvando e isso faz com que eu sinta que eu sou uma pessoa que sobreviveu através dos estudos e eu vou levar essa pesquisa para toda a minha vida porque ela é uma autobiografia”, afirma.

Sobre a seleção no projeto do Instituto Itaú Cultural, o estudante comemorou a oportunidade de divulgação nacional do trabalho de conclusão de curso e a importância de pesquisas que abordem a realidade de pessoas transgêneros ganharem destaque em projetos de instituições como o Itaú Cultural.

“Falarmos de corpos trans é falar que existimos e [um trabalho acadêmico] feito por uma pessoa transgênero, ou seja, um homem trans, isso é muito importante porque estou relatando sobre a minha vivência e, com ela [a pesquisa] posso estar chegando a outras pessoas que podem estar vivendo o que eu vivi e podem estar, nesse momento, se sentindo sozinhas, mas que elas possam entender que sempre existe uma luz no fim do túnel, que a gente vai conseguir ter amigos que vão nos ajudar a sair desses momentos nos quais nos encontramos solitários. Essa pesquisa é importante […] porque no Brasil existe uma grande taxa de assassinatos de pessoas trans por ódio, por questões de preconceito, então disseminar que nós existimos, temos sentimentos, que somos vidas que importam, é importante para o estado, para as artes, para a cultura do país em si”, avalia Kai Henrique.

Segundo dados do Dossiê Assassinatos e Violências Contra Travestis e Transexuais Brasileiras, estudo realizado pela da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) com apoio de universidades como a Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), Federal de São Paulo (Unifesp) e Federal de Minas Gerais (UFMG), foram registrados 140 assassinatos de pessoas trans no Brasil. O país ocupa, pelo 13⁰ ano consecutivo, a liderança em quantidade de assassinatos de pessoas trans. As informações estão em matéria publicada na Agência Brasil.

Trans Censo

O serviço de Psicologia da Pró-Reitoria de Extensão e Ações Comunitárias (Proeac), da Universidade Federal do Amapá, está realizando até 20 de fevereiro o Trans Censo, que tem como objetivo a coleta de dados visando conhecer a população de acadêmicos transexuais e travestis na Unifap. A pesquisa será feita por meio de formulário para identificar as condições de permanência, acesso à saúde, moradia, trabalho, emprego, renda, participação nos programas de pesquisa, extensão e na assistência estudantil. Para participar, basta acessar o link abre.ai/transcensoUNIFAP.

Segundo dados da V Pesquisa Nacional de Perfil Socioeconômico e Cultural de Graduandos das Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes) do Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis (Fonaprace), publicado em 2019, há menos 0,3% de estudantes trans e travestis nas universidades federais. As estatísticas nacionais revelam realidades de altos índices de evasão escolar, negação do direito à moradia, desemprego e baixa expectativa de vida da população de transexuais e travestis.

A iniciativa é da Pró-reitoria de Extensão e Ações Comunitárias (Proeac) e apoio da Pró-reitoria de Graduação (Prograd).

*Texto com informações do prof. Dr. Flávio Gonçalves (Teatro/Unifap), Agência Brasil e Proeac/Unifap
Fotos: Divulgação / Arquivo pessoal

Assessoria de comunicação da Unifap

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